terça-feira, 27 de outubro de 2015

ACNUR: Universidade Federal do Paraná receberá refugiados universitários; prazo é dia 13/11

 
A solicitação para ingresso em 2016 é gratuita e os refugiados não precisarão fazer o vestibular por serem estudantes de cursos superiores em seus países de origem. Seleção será por análise de documentos e depende da disponibilidade de vagas em cada curso, conforme os registros de evasão.
Universidade Federal do Paraná. Foto: UFPR/divulgação
Universidade Federal do Paraná. Foto: UFPR/divulgação
A Universidade Federal do Paraná (UFPR), integrante da Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), informou que refugiados ou portadores de visto humanitário no Brasil e que cursavam algum curso superior no exterior poderão estudar na instituição a partir de 2016.
O período para solicitar ingresso nos cursos de graduação da universidade termina no próximo dia 13 de novembro. A solicitação é gratuita e os refugiados não precisarão fazer o vestibular. A seleção da UFPR será feita por análise de documentos e depende da disponibilidade de vagas em cada curso, conforme os registros de evasão.
A solicitação deverá ser feita pessoalmente ou por meio de procuração do interessado, com firma reconhecida em cartório. Todos os critérios estão estabelecidos em um edital, disponível em http://bit.ly/1MsKeCS
Fonte: http://nacoesunidas.org/acnur-universidade-federal-do-parana-recebera-refugiados-universitarios-prazo-e-dia-1311/

quarta-feira, 21 de outubro de 2015


Nota de Repúdio à violência, à xenofobia e discriminação étnica e racial praticada contra imigrantes

 Pastoral do Migrante dos Regionais Sul 1, Sul 3 e Sul 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e do Serviço Pastoral do Migrante – SPM

       O Serviço Pastoral dos Migrantes no Brasil vem a público solidarizar-se com os familiares e amigos dos imigrantes vitimados por crimes de homicídio, xenofobia, discriminação étnica e racial.
 Ficamos horrorizados, e repudiamos com veemência os homicídios, a xenofobia e a discriminação racial contra imigrantes no Brasil.
        Trazemos presente os inaceitáveis homicídios, preconceitos e xenofobias contra imigrantes ocorridos nos municípios de Flores da Cunha-RS e Navegantes-SC, respectivamente nos dias 08 e 17 de outubro de 2015.
        Considerando que as autoridades dos estados relativizam a gravidade dos fatos criminosos em razão das vítimas serem imigrantes, exigimos apuração e punição dos responsáveis pelos crimes de homicídios ocorridos em Flores da Cunha-RS e Navegantes-SC. Refutamos todo tipo de violência que os nossos irmãos imigrantes estão sofrendo, especialmente o atentado à vida. Esta é uma violação de diretos humanos mais sagrado, o direito a VIDA!
         Exigimos que os governos estaduais e federal punam os criminosos nos casos devidos. Também responsabilizamos, os governos do Rio Grande do Sul, e de Santa Catarina, pela falta de iniciativa, pela lentidão com que apuram e punem os casos de violações de direitos humanos universais. E exigimos que se efetivem campanhas pedagógicas educativas de prevenção e combate às manifestações de racismo, xenofobia e discriminação contra os novos migrantes que chegam ao Brasil. Principalmente os que chegam a região Sul. Porque “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar” (Nelson Mandela).              Entendemos que em nenhuma hipótese é aceitável usar conduta supostamente criminosa como motivo de culpabilização da vítima. A lesão máxima do direito à vida por meio de sua supressão violenta não está justificada em qualquer hipótese, ainda que a vítima reaja à autoridade competente (polícia).
          O Serviço Pastoral dos Migrantes reitera que as autoridades competentes devem investigar e combater com rigor e transparência o ocorrido com os imigrantes haitianos em Flores da Cunha-RS e em Navegantes-SC, bem como devem proceder à punição dos responsáveis pelos crimes ocorridos nestas cidades.
                                                                                              Porto Alegre, 20 de outubro de 2015

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Haitiano é assassinado em Navegantes (SC)

Sterlin e a mulher se conheceram há dois anos em Navegantes
Sterlin e a mulher se conheceram há dois anos em Navegantes
O isolador naval haitiano Fetiere Sterlin, 33, foi assassinado por golpes de facas desferidos por dez homens na noite do último sábado (17), no município de Navegantes (SC), a 112 km de Florianópolis.
Segundo a mulher da vítima, a operária Vanessa Nery, 27, que é de Belém do Pará e testemunhou a agressão, ela, o marido, outro casal e mais um amigo haitiano saíam de uma festa quando dois jovens passaram de bicicleta xingando Sterlin com um palavrão em francês crioulo (um dos idiomas oficias do Haiti), que já é de uso comum no bairro.
"Eles passaram xingando meu marido, que xingou de volta. Aqui é bem comum eles passarem xingando de 'macici' [algo como "viado"], falando para eles voltarem para casa, mas nunca termina em agressão", afirmou.
Ela disse ainda que, antes de ir embora, o rapaz teria dito "eu vou voltar e te dar um monte de tiro". Outra testemunha afirmou que os homens diziam que "haitiano não tem nada para fazer aqui".
Após cinco minutos, os mesmos jovens voltaram ao lugar com armas brancas e outros oito homens, e atacaram o grupo.
"Voltaram com faca, barra de ferro, pá e voltaram para agredir a gente. Não houve uma discussão. Veio um em cima de cada um de nós quatro, e os outros foram todos para cima do meu marido, e começaram a esfaqueá-lo". Segundo ela, a maioria aparentava ser adolescente, "entre 16 e 17 anos no máximo".
Segundo o diretor da Associação de Haitianos de Navegantes, João Edson Fagundes, essa não foi a primeira agressão a haitianos na cidade.
"Ele foi o primeiro haitiano assassinado aqui na região [do Vale do Itajaí], mas no ano passado, outro rapaz levou cinco tiros e sobreviveu, mas logo saiu do Brasil", relatou. Ele suspeita que tenha sido um caso de xenofobia.
O caso foi registrado na mesma noite por um delegado que estava de plantão, e as investigações devem começar nesta segunda.
Sterlin e Vanessa se conheceram há dois anos em Navegantes. Ele estava no Brasil há quatro e havia morado no Pará e em São Paulo anteriormente. A família de Sterlin mora nos Estados Unidos atualmente, e o corpo será sepultado em Navegantes.
Fonte:http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/10/19/haitiano-e-assassinado-em-navegantes-sc.htm

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

UFPR acolhe refugiados que estão no Brasil

reprodução / UFPR
reprodução / UFPR
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) vai acolher refugiados ou portadores de visto humanitário que estão morando no Brasil. O benefício vale para os imigrantes que estavam matriculados em alguma instituição de ensino superior no exterior. As inscrições já estão abertas e vão até o dia 13 de novembro, para ingresso na UFPR no primeiro semestre de 2016. O pedido não tem custo para o candidato, que também não precisará passar por vestibular. Essa iniciativa da Universidade começou no ano passado e segundo o vice-reitor, Rogério Mulinari, pretende inserir esses grupos com melhor qualificação no mercado de trabalho e assim dar condições de melhor sustento familiar
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Os candidatos participarão do já existente Processo de Ocupação de Vagas Remanescentes da UFPR, o PROVAR. Quando novos alunos entram em vagas decorrentes da evasão de estudantes, mudança de curso ou pelo não preenchimento durante o vestibular. A partir da inscrição e da escolha do curso que mais se aproxima do que o candidato cursava no país de origem, a universidade vai analisar a documentação e o histórico escolar, assim como as possibilidades de equivalência e a disponibilidade de vagas no curso pretendido para decidir se concede a vaga
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O vice-reitor explica que o grande número de refugiados e pessoas com visto humanitário que procuram o Paraná como destino motivou a iniciativa.
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A solicitação deve ser feita pessoalmente ou por meio de procuração do interessado, com firma reconhecida em cartório. Como não há um processo de concorrência entre os candidatos, as vagas serão ofertadas aos que primeiro demonstrarem interesse através do requerimento. Documento que deverá ser entregue na Sala do Projeto de Extensão “Migrações, Refúgio e Hospitalidade” do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR. O setor fica no prédio histórico da universidade no Centro de Curitiba, na Praça Santos Andrade, número 50, sala 28, no andar térreo. No pedido, o candidato deverá especificar em qual curso gostaria de se matricular, incluir os documentos exigidos e informações de contato. Se necessitar de ajuda para esse processo, um grupo oferece apoio com relação a língua e aos dados a serem coletados. O edital completo pode ser acessado no site da universidade: ufpr.br. O link para o edital também está disponível no site da BandNews (bandnewsfmcuritiba.com).
Fonte:http://bandnewsfmcuritiba.com/ufpr-acolhe-refugiados-que-estao-no-brasil/

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Os novos rostos da imigração, apresentados há um ano em reportagem de ZH, passam por desilusão. Precisam enfrentar a disputa por trabalho e o preconceito. Poucas são as histórias de sucesso. Muitos querem retornar a seus países Haitianos que migraram ao Rio Grande do Sul em busca do eldorado, as famílias de Diufene, Oline e Sajele têm mais em comum do que a nacionalidade: estão decididos a ir embora do Brasil, seja para tentar sucesso em outro país ou retornar à terra natal. A crise corroeu o sonho brasileiro.Caribenhos e africanos chegaram esperançosos e conseguiram viver bons dias até o aprofundamento da instabilidade econômica e política. Agora, são atormentados por desemprego, salário baixo, dólar alto, sub-habitação e marginalização. O último levantamento divulgado pelo Ministério da Justiça, publicado em agosto passado, indica que, desde 2011, quando houve a explosão migratória, ingressaram no Brasil 45.607 haitianos. Parcela significativa já foi embora. – Ao mesmo tempo em que recebemos imigrantes, muitos estão saindo do Brasil. Cerca de 10 mil haitianos deixaram o país. Não necessariamente para voltar ao Haiti, mas para procurar outras nações. Muitos têm ido ao Chile. Eles saem pelas dificuldades que encontram e, principalmente, pela frustração que experimentam na vinda ao Brasil – analisa o padre Lauro Bocchi, diretor do Centro Ítalo-Brasileiro de Assistência e Instrução às Migrações (Cibai Migrações), instituição vinculada à Paróquia da Pompeia, em Porto Alegre.
Diufene Dumerjuste mora em Bento Gonçalves, na Serra, há mais de três anos. Em fevereiro de 2014, trouxe do Haiti a mulher, Beatrice, e a filha Joice. Ela jamais conseguiu emprego. Em abril deste ano, tiveram a segunda filha: Mari Claire Angelica, uma brasileira.








Trabalhando em uma metalúrgica, Diufene recebe R$ 1,2 mil ao mês. Seu salário será rebaixado até o final do ano porque a empresa fez um acordo de redução de jornada, decorrência da crise. Com o que ganha, paga R$ 600 de aluguel - a metade da sua remuneração total -, sem contar gastos com água, luz, alimentação e vestuário da família de quatro pessoas.
– Não levamos uma vida boa, bastante gente quer ir embora. Pedi para ser demitido até janeiro. Com o dinheiro da rescisão, voltarei ao Haiti. Mas não me prometeram nada – lamenta Diufene, que, em uma gélida noite de setembro em Bento Gonçalves,  recebia em sua casa dois compatriotas que chegaram há meses ao país, mas seguem desempregados.
Com a alta da moeda americana, o imigrante não consegue mais mandar dinheiro e ajudar a família que ficou para trás - são necessários muitos reais para comprar poucos dólares. E esse sempre foi um dos principais objetivos da aventura no Brasil.
Em Marau, Oline Desruisseaux e Sajele Rodrigue também querem fazer as malas. Oline trabalha em uma padaria, na área de serviços gerais. Sua irmã, Nadesh, chegou ao Brasil só em novembro de 2014. Foi contratada para trabalhar em um frigorífico, em Mato Castelhano, distante poucos quilômetros de Marau. A mulher de Sajele era empregada do mesmo abatedouro de suínos.
Em agosto, a indústria fechou as portas. Segundo o Sindicato da Alimentação de Tapejara, que atende a região, problemas de higiene e de segurança do trabalho estiveram entre as motivações. Os funcionários foram mandados para casa, sem receber nenhum valor rescisório. Por questões burocráticas, sequer conseguiram encaminhar o seguro-desemprego.
Dificuldades de comunicação deixam os haitianos perdidos, não sabem a quem recorrer para cobrar o frigorífico. Essa é outra face cruel da imigração: ingênuos e alheios às labirínticas leis brasileiras, são frequentemente ludibriados.
Oline, com seu salário de R$ 1 mil, sustenta a irmã e a filha Ana e paga aluguel, luz, água e alimentação.
– Passei dois anos aqui, pensei que tudo melhoraria, mas só piorou. Não posso ficar mais. Antes, precisava de R$ 230 para mandar US$ 100 ao Haiti. Hoje, preciso de R$ 440 para os mesmos US$ 100. Decidi voltar. Agora é juntar dinheiro para a passagem, que está custando R$ 5 mil – diz Oline.
Há pouco mais de um ano, quando ZH esteve em Marau para produzir a reportagem Os Novos Imigrantes, Oline tinha a pequena Ana nos braços, recém-nascida, e depositava esperança no sonho brasileiro. Tudo mudou radicalmente em apenas uma porção de meses.
Sajele está desempregado, faz bicos de pedreiro, mas poucas oportunidades surgem com a desaceleração da construção civil. Insistentemente, aponta para um Uno cor de vinho estacionado próximo do centro de Marau e expõe o seu plano.
– Aquele auto é meu. Se me derem R$ 4 mil, vendo. Primeiro, mando minha mulher de volta ao Haiti. Depois, dou um jeito de comprar a minha passagem.
Família de Diufene vive em Bento Gonçalves, mas está decidida a voltar ao Haiti
Presidente da Associaçåo de Haitianos de Bento Gonçalves, Ronald Dorval diz que 350 compatriotas estão desempregados na cidade
Levantamentos do Cibai Migrações e da seção gaúcha de Mobilidade Humana da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) indicam que 13,7 mil imigrantes caribenhos e africanos estão vivendo no Rio Grande do Sul, a maioria na Serra, no Planalto e nos vales do Taquari e do Rio Pardo. Cerca de 9 mil são haitianos, 4 mil são senegaleses e os demais se dividem entre naturais de República Dominicana, Gâmbia, Gana e Bangladesh, além de alguns outros.
– Avaliamos que, entre os imigrantes, o desemprego está em 20% – diz o padre João Cimadon, coordenador do setor de Mobilidade Humana da CNBB no Estado.
Ainda são estimativas, mas as organizações ligadas à Igreja são as que contabilizam números mais próximos da realidade. Continua sendo com as instituições religiosas o principal vínculo dos imigrantes, seja no momento da acolhida inicial ou no pedido de ajuda rotineiro. O poder público apenas começa um trabalho de envolvimento. Os efeitos da crise também aparecem em dados do Sine no mês de setembro.
– Hoje temos 2.246 imigrantes de todas as nacionalidades cadastrados nas agências do Sine do Estado, mas sabemos que a maioria é de haitianos e senegaleses. Significa dizer que eles estão na informalidade ou desempregados – explica Juarez Santinon, presidente da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS).
Na rotina dos municípios, a virada no boom migratório é perceptível. Em Bento Gonçalves, viviam 1,7 mil haitianos até 2014. Neste ano, o número baixou para mil, conforme a prefeitura, amparada por dados da Polícia Federal. Para a associação de imigrantes local e a Paróquia Santo Antônio, 1,3 mil ainda estariam na cidade.
Com o desemprego, centenas partiram. Segurando listas nas mãos, Ronald Dorval, presidente da Associação de Haitianos de Bento Gonçalves, diz que 350 imigrantes do seu país estão desempregados por lá. Dados da prefeitura também preocupam: cerca de cem caribenhos - o que pode significar até 10% dos que estão no município - recebem Bolsa Família. É um indicativo de miséria, já que é preciso ter renda per capita mensal de até R$ 154 para obter o benefício.
– Acredito que a redução de imigrantes passa pela frustração deles, até de exercer um serviço pesado para o qual não foram capacitados. Muitos têm formação superior, a gente vê arquitetos e advogados pintando paredes ou na base da indústria. Hoje, existe um movimento de saída da cidade. Para essas pessoas, realmente acredito que o sonho não se tornou realidade – diz Guilherme Pasin (PP), prefeito de Bento Gonçalves.
Em Erechim, no norte do Estado, o número de imigrantes senegaleses foi reduzido de uma centena para 60 entre 2014 e 2015, conforme a Associação de Apoio aos Africanos em Erechim e Região (Asafer).
–Dos que ficaram, um grupo considerável está desempregado e foi para a informalidade – diz o professor e sociólogo Dirceu Benincá, que se uniu à direção da Asafer.
A adesão dos imigrantes às vendas ambulantes é crescente. Em Caxias do Sul, nos arredores da Praça Dante Alighieri, contígua à imponente catedral, estão amontoados pelas calçadas. Em seus tabuleiros ou caixas de papelão, expõem meias, toucas, luvas, relógios, cintos, carteiras, anéis reluzentes e uma enormidade de bijuterias.
Em uma tarde fria de setembro, somente em uma quadra da Avenida Júlio de Castilhos, em frente à praça, havia 13 ambulantes senegaleses e haitianos. Eles disputam a preferência dos clientes com os brasileiros que também dependem da atividade. Por vezes, homens se aproximam, cochicham algo aos ambulantes. Depois, desaparecem.
Enquanto isso, outros imigrantes passam o tempo, mexem no celular, conversam em rodas, fitam o horizonte vazio.
Nas pacatas e organizadas cidades de descendentes europeus, um movimento de marginalização dos estrangeiros se torna cada vez mais preponderante. Quem anda pelas simpáticas ruas de Encantado, de apenas 22 mil habitantes, no Vale do Taquari, não imagina que ali tenha uma periferia. Mas há. E os haitianos e dominicanos que trabalham no frigorífico Cosuel, em maioria, moram lá. É o bairro Navegantes, uma baixada alagadiça, com casebres de madeira, sujeira e entulho nas ruas. Também há tráfico de drogas e violência. Em Bento Gonçalves, os haitianos moram massivamente nos bairros Eucaliptos e Conceição, ambos periféricos. É o caso de Mistrale Lozin:– Moramos aos montes em uma casa. Já morei com nove. E também estão ocorrendo muitos roubos. Um amigo nosso saiu de casa para trabalhar e, quando voltou, tinham arrombado e levado notebook, documentos e mais um dinheiro. Se os imigrantes foram alcançados pelo desemprego, crise e violência, ainda há faces positivas da presença deles no Brasil. Os empresários estão satisfeitos com o comprometimento dos forasteiros. Assumem serviços pesados que, até então, estavam vagos devido ao desinteresse do brasileiro que conquistou qualificação e ascensão financeira.– Tivemos redução de pessoal em 2015, mas os chefes da fábrica sempre procuraram preservar o emprego dos 15 senegaleses que estão conosco. Gostam do trabalho deles, são habilidosos – diz Ana Paula de Zorzi Caon, gerente de recursos humanos da Saccaro Móveis, de Caxias do Sul. A maioria ainda está trabalhando, muitos deles empenhando parte do seu dinheiro para auxiliar com alimento e moradia os compatriotas desempregados. Os problemas econômicos do Brasil não farão cessar o fluxo migratório. – É um processo silencioso e lento. É provável que, com a crise, haja diminuição, mas não vai terminar. Por isso, não falo em onda migratória: é um movimento contínuo, com altos e baixos. Se o Brasil quer ser líder regional na política e na economia, terá de se abrir – diz Gabriela Mezzanotti, professora da Unisinos e coordenadora de uma cátedra da ONU que estuda os refugiados.
Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/especiais-zh/zh-sonhos-partidos/index.html