quarta-feira, 28 de maio de 2014

Sírios se refugiam em Florianópolis para fugir da guerra no país natal

Ao deixar família e amigos para trás, buscam escapar de um futuro que dificilmente deixará de colocá-los em um dos dois lados do conflito

Leonardo Leite Thomé - Florianópolis
   
 
Marco Santiago/ND
Comunidade árabe se reúne para orações no Centro Islâmico da Capital

Ao ser questionado sobre o futuro, quatro dias depois de desembarcar no Brasil, Shadi silenciou, respirou fundo e respondeu: “Não penso nisso. Só penso em sobreviver”. É justamente esse instinto de sobrevivência que move os refugiados da Síria que vêm para Florianópolis. Eles deixam para trás uma guerra civil com mortes, barbárie e fugas. Há três anos a Síria vem se tornando inóspita para os próprios sírios.
Encurralados, eles fogem do país natal. Ao deixar família e amigos para trás, buscam escapar de um futuro que dificilmente deixará de colocá-los em um dos dois lados da guerra. Em Florianópolis, desde 2012 já foram deferidos 39 pedidos de refúgio humanitário a cidadãos da Síria, segundo o Ministério da Justiça. O número de pedidos em análise aumenta dia a dia, enquanto os sírios podem ser vistos trabalhando e caminhando pelas ruas da Capital.
A realidade, entretanto, está longe de ser tranquila. Além da distância e da saudade, o medo pelos familiares que ficaram na Síria é latente. Temerosos, eles preferem não ser fotografados e não expor o nome completo, resquícios de uma guerra que também é psicológica. Além disso, nem sempre é fácil conseguir emprego e a obtenção do visto como refugiado pode levar meses.
Mesmo assim, pessoas como o comerciante Nadin, que presenciou casas e carros virarem pó nos confrontos entre aliados e oposicionistas do ditador Bashar al-Assad nos arredores de Damasco, capital da Síria, são gratos ao Brasil por abrir as portas aos refugiados. Em setembro de 2013, o Brasil foi o primeiro país das Américas a oferecer asilo humanitário aos sírios. “O Brasil nos concedeu vistos. Muitas vidas foram salvas com isso”, diz Nadin, solteiro e sem filhos, que deixou a mãe no Líbano e o pai na Síria. Aos 53 anos, ele mora com outros quatro refugiados sírios em um apartamento na rua Felipe Schmidt, no Centro.
O papel dos órgãos públicos
Quem recebe e analisa os pedidos de refúgio dos sírios quando chegam ao Brasil é o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados). Subordinado ao Ministério da Justiça, o Conare é responsável por conceder documentos aos refugiados e repassar recursos de assistência direta para organizações da sociedade civil, como a Cáritas, entidade que atua em defesa dos direitos humanos no mundo todo.
Advogado voluntário da Cáritas, em Florianópolis, Eduardo Veronese afirma que a entidade tem dois projetos para atender os refugiados sírios no curto prazo: “Um já está sendo feito, que é a doação de alimentos para essas pessoas, diretamente no Centro Islâmico. Outro, não menos importante, é o de ministrar aulas de português para os sírios, principalmente porque eles vêm para trabalhar e a língua pode ser uma barreira”, diz.
O projeto das aulas ainda está em desenvolvimento, porém, Veronese espera em breve colocá-lo em prática. “A Udesc [Universidade do Estado de Santa Catarina] e o Pronatec, do governo federal, serão nossos parceiros”, revela.
Em 2013, o Conare reconheceu e deferiu os pedidos de 256 refugiados sírios em todo país. Em Florianópolis, foram 14 pedidos em 2013, dez em 2012 e 15 este ano. A assessoria do Conare afirma que o órgão controla apenas a emissão de protocolo de refúgio no local onde ele é solicitado. Depois, esses cidadãos têm livre trânsito pelo país, como qualquer brasileiro.
Tiago Silva, secretário de Assistência Social da Capital, que tomou posse na quinta-feira, afirma estar inteirado do aumento no número de refugiados em Florianópolis. Segundo ele, a pasta procura maneiras de ajudar os sírios a conseguir emprego, receber alimentos e ter acesso à saúde e educação. “Temos conhecimento da situação e vamos buscar garantir assistência a esse povo”, garante.
Acolhida da comunidade árabe
Um dos que acolhem e ajudam os sírios no cotidiano da cidade desconhecida é o sheik Amin Alkaran, do Centro Islâmico de Florianópolis. Há 30 anos no Brasil, Alkaran recebe os sírios para as tradicionais orações, a leitura de trechos do Alcorão, e para ajudar no que for preciso. Ele afirma que os homens chegam ao Brasil sem familiares, em busca de trabalho. Já mulheres e crianças procuram países vizinhos, como Líbano e Egito. “De qualquer forma, todos têm familiares na Síria, e por isso têm medo de se exporem, pois existem perseguições”, explica.
O Centro Islâmico da Capital é local de encontro entre pessoas que vieram da Síria e membros da comunidade árabe na cidade. Entre homens e mulheres com origens semelhantes, a adaptação dos sírios ganha em rapidez e ajuda a confortar as incertezas do presente. Exemplos de superação e volta por cima dos que frequentam a mesquita não faltam, como é o caso do comerciante Ibrahim Soumaille, 50 anos, que também fugiu de uma guerra civil em seu país, o Líbano.
Em 1981, Soumaille seguiu os mesmos passos dos sírios de hoje e desembarcou em Florianópolis. Uma esposa brasileira, três filhos e 33 anos depois, ele criou raízes na Capital. Entre as duas guerras, ressalta, existem muitas diferenças. “A guerra na Síria é muito pior do que aquela no Líbano, a violência é maior”, pontua.
Com tanta experiência, é de Soumaille muitos dos conselhos e ensinamentos que os sírios recebem nesse início de jornada em Florianópolis. “Os brasileiros reclamam do Brasil, mas esse país tem muito mais oportunidades do que os que vivem em guerra no Oriente Médio. Basta vir para cá e trabalhar. Tenho certeza que os irmãos sírios vão conseguir”, torce.
Nadin, Nurodin e Shadi
A reportagem do Notícias do Dia conversou com três refugiados sírios que moram em Florianópolis. Nas conversas, com o sheik Amin Alkaram como tradutor, a simplicidade dos sírios contrastava com a força que transparecia dos corações acostumados às crueldades da vida.
Shadi, aos 20 anos, chegou sozinho ao Brasil, há poucos dias. “Lá eu não tinha opção. A maioria dos homens da minha idade é chamado para servir em um dos dois exércitos. Eu quero trabalhar e estudar”, revela. Ele está longe dos pais, mas em meio a uma comunidade árabe de Florianópolis com cerca de 300 pessoas, que o acolheu. “É como se eu tivesse vindo para os meus familiares. Sinto-me seguro”, afirma.
Simpático, Nadin não esconde o encanto com as belezas de Florianópolis. Mas o que mais o deixou feliz foi conhecer a hospitalidade do povo brasileiro, algo que, garante, dá confiança para os sírios seguirem em frente em busca de uma palavra que todos repetem: “Pretendo me estabelecer aqui para ter uma condição de sobrevivência melhor do que antes”. Seu pedido de visto permanente ainda está sendo analisado, porém, sua gratidão já é fixa: “Sou grato ao Brasil”.
Estudante de mecânica na Síria, Nurodin é um dos sírios mais jovens na Capital. Inquieto, arrisca algumas palavras em português. Sabe que não será fácil aprender o novo idioma, mas também sabe que quase nada nesta vida é fácil. “Meus colegas de trabalho me ajudam com o português. Pode demorar, mas vou aprender a falar bem, já até consigo falar alguma coisa”, diz.
Falta tudo na Síria
O apuro das pessoas atingidas pela guerra civil na Síria é ampliado pela falta de comida, água, medicamentos e combustíveis, de acordo com Nadin. A situação é tão crítica que não é seguro se movimentar pela cidade, ir ao supermercado ou visitar amigos. “São muitos bombardeios e blitze militares – fixas e móveis. Além disso, não existe rotina, porque faltam mantimentos e os que existem têm um alto custo, que é difícil de pagar”, relata Nadin, que ainda procura emprego na Capital.
Segundo levantamento da ONU (Organização das Nações Unidas), são mais de dois milhões de refugiados sírios espalhados pelo mundo. Ainda de acordo com a ONU, o genocídio no país já matou mais de 120 mil pessoas.
Para escapar deste “destino”, Nurodin chegou a Florianópolis há três meses. Com ajuda da comunidade árabe, ele conseguiu emprego em um restaurante. “Já estou trabalhando, e isso é muito bom. Ainda tenho muito a aprender, mas com a ajuda de muitas pessoas, como tenho, vou conseguir”, conta o jovem que nasceu em Damasco.
Sobre as maneiras de matar a saudade dos pais e irmãos, Nurodin revela que se comunica por meio das redes sociais. Tímido, mas sempre com um sorriso no rosto, o refugiado ainda não pensa em morar definitivamente no Brasil. Antes, pondera, precisa se estabilizar por aqui, bem como se acostumar com uma cultura tão diversa da sua. Se depender da comunidade árabe da Capital, isso será fácil. “Gosto do Brasil, mas sempre morei na Síria. Vamos ver o que vai acontecer”, afirma.
Religiosos
Apesar da distância, diariamente os sírios e outros membros da comunidade árabe reservam alguns minutos do dia para as orações em adoração a Alá - o Deus da religião islâmica. Na mesquita do Centro Islâmico, às 16h de uma segunda-feira, 13 homens se perfilaram, descalços, virados para Meca - lugar sagrado do Islamismo, onde teria nascido e está enterrado Maomé, último profeta de Alá.
À frente, o sheik Amin, cabisbaixo e silencioso, dá início ao ritual. Após poucas palavras, eles se ajoelham com a cabeça colada ao chão. Repetem o gesto de levantar e ajoelhar algumas vezes. Ao fim da oração, que durou oito minutos, as pessoas se cumprimentaram e deixaram a mesquita aos poucos.
Nadin nunca deixa de praticar suas orações. “Nós temos horários para praticar as orações coletivas, é algo que nunca deixaremos de praticar, pois é muito importante para nossa cultura e nos aproxima de nossos irmãos”, diz.
Regularização
Os refugiados sírios chegam ao Brasil com visto de turista, com validade de três meses e opção de renovação por mais três, de acordo com a PF (Polícia Federal). O delegado Ildo Rosa, responsável pela comunicação social da PF, afirma que o pedido de refúgio só pode ser feito já em território nacional. “Ao chegarem ao Brasil, os refugiados se apresentam no posto alfandegado dos próprios aeroportos e dão entrada no pedido de concessão de protocolo definitivo, que garante o asilo”, afirma.
Quando procuram a PF para pedir o status de refugiados, os sírios ganham um protocolo provisório que os permite tirar carteira de trabalho e alugar imóveis, por exemplo. “A concessão do protocolo definitivo pode levar até um ano e meio, mas nesse intervalo eles podem trabalhar e viver por aqui normalmente, pois a condição de refúgio nos obriga a acolher um povo que estava em perigo em sua terra”, explica Ildo Rosa.

Fonte: http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/168941-relatos-e-historias-de-quem-deixou-o-pais-e-a-familia-por-conta-da-guerra.html?utm_source=Portal-RICMAIS&utm_medium=chamada&utm_campaign=Parceria-RICMAIS

segunda-feira, 26 de maio de 2014


DIA 1º DE JUNHO

 DOMINGO PRÓXIMO

MUTIRÃO SOLIDARIO NA COMUNIDADE SÃO LUIZ

(Rua Antonio Bonato, 517 Osternack)

10 H SANTA MISSA CAMPAL

Celebração do Beato Scalabrini

(LEVAR UM KILO DE ALIMENTOS)

 

12H VENDA DE PASTEL E APRESENTAÇÃO DE GRUPOS LOCAIS

(MUSICA)

 

13:30 H RECREAÇÃO E MUTIRÃO DE ATENDIMENTOS ATÉ ÀS 17H

COPEL, SANEPAR, VIVA MULHER, ASSISTENTE SOCIAL, CABELEREIROS, BANDAS LOCAIS, CAPOEIRA, ORIENTAÇÕES, DIVERSÃO E MUITO MAIS...

 

 

domingo, 25 de maio de 2014

Inauguração do Centro de Referência em Direitos Humanos Dom Hélder Câmara        

  
Centro de Defesa_Caritas


Dom Helder Câmara, bispo brasileiro e grande atuante na causa dos direitos humanos. Com esse nome, o Centro de Referência em Direitos Humanos Cáritas Paraná, projeto que começa a ser desenvolvido pela Cáritas Brasileira em parceria com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), inicia oficialmente sua atuação no Paraná. A cerimônia oficial aconteceu na última quarta-feira (21/05), em Curitiba, com a participação de diversos representantes dos movimentos populares e colaboradores da Cáritas, além de entidades governamentais.
 
A ideia do CRDH surgiu a partir de experiências realizadas por órgãos públicos e organizações não-governamentais, as quais possibilitaram o acesso da população de baixa renda a serviços essenciais como assistência jurídica e documentação civil básica. Desta forma, “o Centro de Referência em Direitos Humanos atua como mecanismo de defesa, promoção e acesso à justiça e estimula o debate sobre cidadania, influenciando positivamente na conquista dos direitos individuais e coletivos das comunidades mais pobres, propondo uma articulação em rede, bem como um fórum de discussão permanente sobre Direitos Humanos”, explica a coordenadora do CRDH da Cáritas Paraná, Tailaine Cristina Costa.
 
Segundo a assessora de Direitos Humanos e Secretária Nacional da Cáritas brasileira, Alessandra Miranda, a entidade sempre esteve à frente das discussões sobre os Direitos Humanos, mas nunca havia feito uma ação específica. “Desta vez a parceria foi com Governo Federal. Ele oferece a parte estrutural e nós da Cáritas elaboramos a ação”. Ainda segundo Alessandra, a criação do Centro vem para colaborar, assim como tantas outras instituições que já atuam, em função dos Direitos Humanos. “A Cáritas sempre fez atuações assim, mas agora só potencializamos o que já tínhamos”, diz.
 
De acordo com João Alves, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, “o centro é um instrumento permanente de diálogo com as vítimas de vulnerabilidade, um local de referência para as pessoas que necessitam. A Secretaria Nacional de Direitos Humanos financia o Centro e a Cáritas oferece a atuação em Rede, nunca trabalhará sozinha”, explica.
 
A criação do Centro é uma atitude necessária em meio ao atual contexto de sociedade. Para o Presidente do Concelho da Cáritas, Pe. Zenildo Megiatto, “há situações que se não há uma organização específica, a população tem um desfalque. Precisamos de pessoas que dediquem seu tempo em favor dos Direitos Humanos, nosso país precisa disso”. Já para o procurador do Ministério Público do Paraná, Dr. Olympio de Sá Souto Maior Neto, a Igreja Católica leva consigo um histórico que demarcou muito a ação sobre Direitos Humanos, segundo ele, há uma intervenção significativa da Igreja sobre o cuidado com a vida plena. “Dessa forma, a criação do CRDH nos faz chegar mais perto das pessoas que não tem oportunidade, pois todos somos sujeitos de direitos”, diz. Para ele, o papel do Ministério Público é fundamental na atuação do Centro, pois objetiva a efetivação de um Estado de direito democrático. “É necessário fazer opção preferencial a favor dos excluídos. Não é um olhar de caridade, é um olhar de amor. O progresso não se dá apenas no desenvolvimento econômico, mas especialmente do desenvolvimento social”, explica o promotor.
 
Levando em conta o papel do Governo do Estado sobre a integração do mesmo com o CRDH, a diretora adjunta do Departamento de Direitos Humanos e Cidadania, Fatima Yokohama, explica que a importância do Centro e a união com o Departamento. “Juntos podemos organizar uma rede de enfrentamento a vulnerabilidade, não somente na construção de políticas públicas, mas na necessidade de envolver os movimentos organizados e a sociedade civil, nos ajudando e nos apontando as necessidades para esse enfrentamento”. Para Fátima, é necessário fazer uma “política vertical”, sem hierarquias e realizando as ações com a sociedade e não para ela.
 
Representantes da Prefeitura de Curitiba também se fizeram presentes. Igo Martini, da Assessoria de Direitos Humanos da Prefeitura de Curitiba trouxe dados de vulnerabilidade e violência contra a juventude, os negros e as mulheres. A partir desses índices de vulnerabilidade apresentados, a Prefeitura terá um papel fundamental com o Centro na articulação com todas as secretarias do município, para o combate das situações de exclusão e violência. “O objetivo é fazer com que as demandas enviadas pelo Centro para nós sejam atendidas e tenham resposta imediata. Nosso papel como Prefeitura é ser articulador e, depois que estabelecermos um fluxo, avançar mais” explica Igo.
 
O Centro de Referência, que também será implantado pela Cáritas em Florianópolis (SC) e em Teresina (PI), será um espaço para a mobilização social e articulação em rede de atendimento direto às situações de violação de direitos humanos. Amauri Mossmann, secretário executivo da Cáritas Paraná fala sobre o papel da Cáritas e sua responsabilidade sobre o CRDH. “A Cáritas Brasileira atua na defesa dos direitos humanos e no desenvolvimento sustentável solidário, na perspectiva de políticas públicas. Seus agentes trabalham junto aos excluídos e excluídas em todo o Brasil. No nosso caso não será diferente, nossa equipe se compromete a executar com todos os esforços para garantir a expansão da nossa rede de defesa dos direitos humanos”, finaliza.
 
Os serviços oferecidos pelo Centro:
- Informação Sobre Direitos e Serviços
- Atendimento Jurídico, Social e Psicológico
- Capacitação em Direitos Humanos
- Produção de Conhecimento
- Mediação de Conflitos





A Caritas Brasileira inaugura, na próxima quarta-feira (21), o Centro de Referência em Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, implantado com apoio da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
O Centro atuará com atendimento à população de baixa renda, para ampliar o acesso à justiça para casos individuais e coletivos. Uma equipe interdisciplinar irá oferecer atendimento jurídico, social e psicológico, capacitação em direitos humanos e mediação de conflitos.
A inauguração será no 21 de maio, às 14h, no Auditório do Asilo São Vicente de Paula, Rua São Vicente, 100 – Juvevê.
www.cefuria.org.br

 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Imigrantes haitianos e senegaleses recebem aulas de língua portuguesa em Chapecó -SC           

Iniciativa tem como objetivo facilitar a integração dos estrangeiros com a comunidade chapecoense 
                         
              
  Desde o último sábado, imigrantes haitianos e senegaleses que trabalham em uma agroindústria de Chapecó passaram a receber aulas gratuitas de língua portuguesa. O objetivo é facilitar a integração dos trabalhadores estrangeiros com a comunidade chapecoense.
 

Autor: RICTV Record
Professora da UCS fala do fenômeno migratório de haitianos e senegaleses em Caxias

Vania Herédia afirma que Caxias é uma cidade de migrações contínuas

 
 

 
Fabiano Finco
A professora do Centro de Ciências Humanas da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Vania Herédia, coordena a pesquisa Migrações Internacionais no Sul do Brasil, e fala na entrevista a seguir que Caxias é uma cidade de migrações contínuas, e que os senegaleses e haitianos não pretendem interferir na cultura e hábitos locais.

>> Senegaleses e haitianos estão inseridos na comunidade de Caxias do Sul
Pioneiro: Caxias do Sul, a exemplo de outras grandes cidades, percebe a presença de cada vez mais haitianos e senegaleses nas ruas. O cenário urbano chegou a se modificar. Para uma cidade considerada conservadora em seus costumes, como a senhora acha que Caxias vai lidar com esse fenômeno?

Vania Herédia:
Caxias é uma cidade de migrações contínuas. O caxiense sempre aceitou as migrações à medida que necessitava de mão de obra para o seu crescimento econômico. Não foi diferente nos primeiros ciclos migratórios, no começo do século 20, quando recebeu migrantes de localidades próximas, ou mesmo de seus distritos rurais. Esses, "considerados iguais", não ameaçavam a ideia da colônia próspera e eram úteis ao seu crescimento. Em décadas posteriores, esses migrantes já não eram mais descendentes de europeus e vinham de outras localidades, com outras culturas, aceitando o modo de vida e querendo também se integrar na prosperidade da cidade que oferecia trabalho e oportunidades. Nas últimas décadas, as migrações tiveram outras características. Não eram mais apenas migrações rurais, eram migrações urbanas, "laborais". Nessa fase, esses migrantes já demonstravam traços culturais distintos, como o caso dos fronteiriços, e depois dos nordestinos e populações do Norte do país, e mesmo pequenas parcelas de migrações da América Latina. No final da última década, começaram migrações internacionais com características culturais distintas que tocaram no conservadorismo de muitos, preocupados com a manutenção de um "status quo" que esses migrantes não tem intenção alguma de interferir.

Pioneiro: Enquanto algumas pessoas escancaram demonstrações de preconceito, seja através de comentários ou ofensas, outras oferecem ajuda, facilitando aos migrantes acesso à moradias e emprego. Na sua opinião, essa balança pende mais para qual lado? Há mais gente contra ou a favor desses estrangeiros?

Vania:
Para responder essa questão é necessário fazer uma pesquisa social. As ambiguidades e os antagonismos presentes nos estudos migratórios são frequentes e dependem do lugar do observador do fenômeno. Aqueles que interessa a mão de obra migrante são favoráveis, aqueles que se sentem ameaçados por algum motivo particular possuem posições contrárias e dificuldades de olhar para a alteridade. Associado a esses medos de perdas, ainda aparecem os preconceitos, as dificuldades de aceitar novas realidades, característica frequente de sociedades conservadoras.

Pioneiro: O imigrante italiano, que predomina na região, é preconceituoso por natureza, e já nos antepassados tratava os negros com desdém. O fenômeno que se observa hoje diante de haitianos e senegaleses é o resultado dessa cultura?

Vania:
A região de colonização europeia no Nordeste do Estado teve uma série de benefícios por parte do governo imperial no final do século 19 para quem era branco. A Lei de Terras, promulgada em 1850, permitia o acesso à terra pela compra, mas no país ainda vigorava a escravidão. O negro foi excluído duplamente da inserção social, ou seja, não podia comprar terras e em alguns estados, pela política de colonização, não podia trabalhar nelas. Essas condições impediram o acesso a propriedade privada e ao mesmo tempo os negros acabaram distantes dos colonos. Essa realidade não ocorria na Itália, onde muitos eram servos, e tinham experiências dolorosas do trabalho servil. Então, falar de preconceitos, dependendo do período histórico, é esquecer as condições históricas que muitos tiveram e o benefício que muitos receberam para se tornarem proprietários o que lhes dava acesso a uma nova condição social, diferente da do país de origem.

Pioneiro: As demonstrações de preconceito partem de pessoas mais velhas? Os jovens já teriam outra visão dessa relação inter-racial ou seguem os mesmos preceitos? Estamos evoluindo nesse quesito?

Vania:
Os preconceitos não têm idade, porque muitas vezes os jovens repetem as posições que apreenderam de seus pais, valores postulados pelas instituições que convivem, ou seja, na família, na escola, nas relações de convivência, nas relações de grupos que se identificam. Talvez os mais idosos tivessem mais preconceitos porque muitos foram excluídos dos sistemas de educação formal e suas reações provinham mais da própria convivência social, da falta de informações. Mas hoje, mesmo aqueles que passam pela educação formal não demonstram posições mais abertas, mais humanistas, já que a educação continua sendo conservadora. Vemos as dificuldades que os jovens têm de aceitar as diferenças sociais, de aceitar o outro, que é diferente dele mesmo. Então, passar pela escola não garante a eliminação dos preconceitos, que infelizmente se reproduzem historicamente entre as gerações.

Pioneiro: A polícia não tem relatos de ocorrências envolvendo senegaleses e haitianos, a não ser como vítimas. Esses migrantes seguem preceitos religiosos muito rigorosos, e muito por isso não se envolvem em confusão. Até que ponto esses migrantes, diante do modelo de educação que encontram aqui em Caxias, bem como o cenário de violência gratuita instalado na cidade, podem ser influenciados negativamente e optarem pela vida criminosa?

Vania:
Não acredito nesse tipo de raciocínio. A formação do indivíduo e os valores culturais que carregam ajudam as pessoas na definição de suas escolhas pessoais e profissionais. Os migrantes têm muito mais atenção com as regras do que aqueles que as transgridem porque se sentem próprios do local. Não é possível julgar as pessoas pela cultura do país, ou do Estado, ou da cidade. O modelo de educação que vigora em Caxias do Sul não é diferente de outras sociedades que valorizam excessivamente os valores materiais em detrimento de valores culturais, envolvendo inclusive aspectos religiosos. O cenário da violência instalado na cidade reflete a violência instalada na sociedade, onde por pouco, ou quase nada, indivíduos matam indivíduos e roubam seus pertences. Mesmo assim, a sociedade se posiciona contra programas sociais que poderiam minimizar esses conflitos que nascem de estruturas antigas e desiguais, consolidadas por um sistema econômico dominante em que o valor encontra-se predominantemente nas condições materiais. As contradições do sistema refletem a violência do mesmo. A violência pode influenciar qualquer indivíduo que se sinta discriminado por ela mesma. Caxias é uma cidade de migrantes historicamente, e não é por esse motivo que muitos optaram pela vida criminosa.
 
Fonte: http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/geral/cidades/noticia/2014/05/professora-da-ucs-fala-do-fenomeno-migratorio-de-haitianos-e-senegaleses-em-caxias-4502241.html
Reportagem sobre a rotina de médicos cubanos em Curitiba

Acompanhe:

http://g1.globo.com/pr/parana/paranatv-1edicao/videos/t/edicoes/v/parana-tv-acompanha-a-rotina-de-medicos-cubanos-em-curitiba/3360421/
Haitianos comemoram o Dia da Bandeira no Memorial de Curitiba
 
principal
     
O Memorial de Curitiba recebeu um grande público para a celebração do Dia da Bandeira do Haiti comemorado no domingo, dia 18 de maio. O evento organizado pela Fundação Cultural de Curitiba, pela Associação dos Haitianos em Curitiba e pela ONG Casa Latino Americana reuniu cerca de 400 pessoas.
Entre os presentes, compareceram mais de 200 haitianos que puderam apresentar diversos aspectos da sua cultura para os curitibanos. Das 15h às 22 horas, o público pode acompanhar palestras sobre o Haiti, apresentações musicais e de dança, exibição de vídeo sobre a cultura haitiana, além da degustação de comidas típicas.
Para o superintendente da Fundação Cultural de Curitiba, Igor Cordeiro, a realização do evento foi uma forma de reconhecer e reverenciar oficialmente os mais de 2 mil haitianos que vivem em Curitiba. “A cidade tem o compromisso de receber com alegria assim como fez com todas as etnias que ajudaram a construir a história de Curitiba”, diz Cordeiro.
A haitiana Laurete Bernadin vive no Brasil há quatro anos e, com a chegada de seus conterrâneos, passou a prestar serviço de acolhimento e acompanhamento dos novos moradores da cidade através da Associação dos Haitianos em Curitiba. Segundo Laurete, a entidade recepciona e os ajuda com alimentação, moradia e trabalho. "Além de trabalho e renda para ajudar suas famílias os haitianos que chegam ao Brasil também querem estudar", lembra Laurete.
Documentário
Há um ano meio a estudante de jornalismo Gabriela Broliani registra imagens e depoimentos sobre a presença haitiana em Curitiba. A aluna da UFPR conta que os haitianos são muito educados, mas têm receio de serem filmados ou de dar entrevista. "Talvez seja um reflexo do racismo que eles sofrem. Mas me parece que a cidade está aprendendo a conviver com os haitianos. Um evento como esse é uma forma de mostrar que a cidade está recebendo melhor", afirma Gabriela.
Outra iniciativa que está ajudando a integrar os haitianos em sua nova casa é promovida pelo Celin – Centro de Línguas e Interculturalidade da Universidade Federal do Paraná. A instituição oferece aulas de Português gratuitas que são ministradas por professores voluntários. Segundo o Coordenador do Curso de Graduação em Letras da UFPR, João Arthur Pugsley Grahl, até o momento, 200 alunos participam das atividades. "O objetivo do curso vai além do ensino da língua portuguesa, a ideia é promover a integração dos haitianos. A cidadania de uma pessoa começa pelo domínio do idioma local", diz João Arthur.

Fonte: http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/haitianos-comemoram-o-dia-da-bandeira-no-memorial-de-curitiba/32939

sábado, 17 de maio de 2014

HAITIANOS EVITAM BLECAUTO DE MÃO DE OBRA
São Paulo, Paraná, Santa Catarina ou Mato Grosso do Sul, os empresários se disputam os imigrantes haitianos. Um contingente precioso nesses tempos de falta de mão de obra no Brasil.
Às 10h, a movimentação é intensa no pátio da Igreja Nossa Senhora da Paz. Essa parte do dia passou a ser chamada por ali de “a hora do empresário”, diz o padre Paolo Parise.
Desde que os haitianos chegaram ali, no início de abril, assim é a rotina na rua do Glicério, região central de São Paulo: grupos se formam ao redor dos representantes de empresas para ouvir propostas de emprego.
“Quinta-feira foram 60 contratados. Na quarta, 57. Na terça, 47. Todos eles com carteira assinada”, diz o padre, diretor da Missão Paz.
Até agora, 50 empresas já contrataram haitianos no local, uma maioria de homens, jovens e dispostos a “fazer América”, a do Sul.
Anchelus Wendel, 25, se encaixa nesse perfil. Com um fone vermelho nos ouvidos e apartado do resto do grupo, diz que um dia quer concluir os estudos. Por ora, pensa mesmo é em conseguir um emprego na construção civil.
É o mesmo desejo de Fenitho Duverna, 32. “Sei que posso ganhar entre R$ 3.000 e R$ 5.000 na construção. Trabalho com acabamento”, diz.
Antes de chegar ao Brasil, há cerca de 40 dias, passou oito anos na República Dominicana, onde se formou em administração de empresas.
“Quero ganhar dinheiro rápido e trazer minha família [mulher e duas filhas]“, diz.
A maioria dos salários oferecidos, porém, fica bem abaixo do desejo de Duverna: vão de R$ 800 e R$ 1.300, além de alojamento e benefícios como vale-alimentação.
Os destinos variam. Muitos vão para Estados como Santa Catarina e Paraná preencher vagas em frigoríficos e fábricas têxteis. Outros seguem para o interior paulista.
À tarde, os interessados em contratar continuam a chegar. Nem todos os empresários sairão de lá com o objetivo alcançado.
A expectativa dos haitianos de um salário maior e a concorrência entre os recrutadores podem explicar porque alguns dizem ir embora com menos do que precisam.
“Vim para contratar 30. Estou levando 10″, diz Jefferson Alves Silva, da Emplal, empresa de embalagens em Três Lagoas (MS). “Vou colocá-los no avião e amanhã volto para tentar mais dez.”
Destino Santa Catarina
Aproximadamente 50% dos imigrantes que chegam no Acre, principal ponto de entrada deles, querem ir para Santa Catarina.
Quando embarcou num ônibus em Rio Branco, no Acre, Claudy Jacques sabia apenas que precisava chegar em Florianópolis, onde estavam seus amigos. Como ele, milhares de outros haitianos procuram Santa Catarina atrás de trabalho e oportunidades.
Segundo a PF (Polícia Federal), são 1.600 haitianos no Estado. O número, no entanto, é controverso, pois em apenas três cidades do Litoral Norte, dados das prefeituras indicam a soma de quase 2.000 imigrantes do país caribenho. Independente do número, o certo é que eles não param de chegar para reforçar a mão de obra necessitada pela indústria local e garantir um futuro melhor.
Futuro que depende também de políticas públicas que atendam essas pessoas em questões básicas, como saúde e educação. Cientes do aumento de estrangeiros na Capital e em São José, a Secretaria de Assistência Social de Florianópolis começou a montar um comitê intersetorial para tratar da questão da imigração na Grande Florianópolis.
“Pretendemos, em conjunto com prefeituras e câmaras municipais, além dos governos estadual e federal, criar um grupo que pense políticas públicas para essas pessoas que vêm do Haiti”, afirma o secretário Alessandro Abreu. “O emprego eles conseguem fácil, precisamos oferecer condições sociais”, completa.
Cinco dias de ônibus por R$ 500
Claudy Jacques, junto com o amigo e colega de trabalho Emanoel Abi, 44 anos, gastou R$ 500 de Rio Branco a Florianópolis, com escala em São Paulo. A viagem de cinco dias foi cansativa, especialmente porque os dois recém tinham deixado a família para trás. Em Florianópolis, tentaram emprego, algo que foram conseguir em São José, onde amigos já estavam empregados.
Há um mês, ambos dão expediente na Klima Tempo, empresa de engenharia e manutenção de ar-condicionado. “Quando não estamos trabalhando, estamos descansando. Temos que juntar dinheiro para a família e os filhos”, diz Abi, que fala com as crianças por telefone e internet, e sonha apenas com a volta para casa. “Se eu juntar R$ 20 mil aqui volto para o Haiti e vivo tranquilo com minha família”, afirma.
Na empresa, a sócia proprietária Aurea Cristina Broering Fortes dos Santos tem três haitianos na equipe. Ela classifica os imigrantes como homens inteligentes, disciplinados e de muita boa vontade. Os três têm carteira assinada e contam com a solidariedade dos colegas de trabalho.
De acordo com Aurea, outros funcionários fizeram doações e ajudaram a mobiliar o apartamento em que vivem os haitianos. “O pessoal os adora. E eles merecem. No primeiro dia de trabalho, um deles não tinha relógio e chegou às 5h para trabalhar. Ele não queria se atrasar”, conta.
O primeiro dia de trabalho
No canteiro de obras do novo centro de distribuição das lojas Renner, em São José, cinco haitianos tiveram seu primeiro dia de trabalho. Executando tarefas de pedreiro, o grupo apareceu na segunda-feira em busca de emprego. Com a mão de obra escassa, e ciente da eficiência do trabalho desenvolvido pelos haitianos, o encarregado de obras Francimar José Rodrigues não teve dúvidas: contratou os trabalhadores no ato. “Você mostra uma vez a tarefa e eles já saem fazendo”, diz.
Foi com as passagens pagas de Rio Branco a São Paulo que Ribin Darcon, 33 anos, chegou em Florianópolis. Dominando a língua espanhola, foi ele quem chamou os colegas para conversar com a reportagem. Darcon sente falta de duas coisas. “Aqui o que faz falta é a família e uma máquina de lavar”, afirma. Sobre o futuro, ele e os colegas planejam um dia de cada vez: “O que importa é o dia de amanhã”.
Morro da Caixa
Na parte continental de Florianópolis, no Morro da Caixa, vivem dezenas de haitianos. No local, se pode observar diversos grupos caminhando pelas vielas no fim de tarde, muitos ainda com os uniformes do trabalho. Em uma casa amarela, uma família contou o que deseja da vida em Florianópolis. Ex-estudante de enfermagem no Haiti, Jão Virgimini, 22 anos, chegou há dois meses. Dois sonhos acalentam seu coração: “Arrumar um trabalho e voltar a estudar”.
Vizinho de Jão, Luckson Joph, 28, trabalha numa empreiteira de Florianópolis e também deseja terminar os estudos por aqui. Para tanto, pretende melhorar o português. Enquanto isso não acontece, o haitiano que morava na Venezuela elogia o país que o acolheu: “O Brasil é ótimo”.
Preocupação sem fundamento
O delegado Ildo Rosa, responsável pela comunicação social da Polícia Federal, afirma que os 1.600 haitianos computados em Santa Catarina são os que estão registrados nos arquivos da PF. Ildo demonstra preocupação em relação ao aumento no número de imigrantes haitianos desembarcando no país.
Para o delegado, a seguir esse ritmo de imigração, em pouco tempo alguns serviços básicos serão atingidos e poderão respingar nos brasileiros. “Tememos que essa imigração reflita na falta de mão de obra para brasileiros e no aumento da demanda por serviços, como saúde e educação. Precisamos discutir isso em conjunto”, avalia.
O professor de sociologia da Unisul, Pedro Santos, não acredita que isso aconteça. “A imigração é algo que não se pode parar, veja a Europa, onde se constroem muros e os africanos seguem chegando. Se proibirem os haitianos de entrar eles seguirão entrando pelo Peru, através dos coiotes”, diz.
Além disso, ressaltou, receber estrangeiros é uma tradição da política externa brasileira. “E o Brasil tem tido sucesso em suas missões de paz, como no Haiti e Timor Leste”. Fazer com que os serviços essenciais sejam alcançados com qualidade, reforçou, só depende de articulação entre os diferentes poderes e vontade de trabalhar. “O Brasil precisa fazer as coisas certas”, conclui.
Dois empregos
Em Joinville, no Norte do estado, cerca de 500 pessoas estão registradas no cadastra da Assistência Social.
O haitiano Olmann Petide trabalha em dois empregos, em uma ferramentaria e em um restaurante. “Eu não posso morar aqui sem a minha esposa, eu tenho saudade do meu filho”, diz. Ele calcula que custará R$ 13 mil para trazê-los. Trabalhando a seis meses em Santa Catarina, o haitiano envia R$ 800 mensais para a família, já guardou R$ 3 mil e dorme apenas três horas por noite.
Visto de permanência
Em Joinville, 40 haitianos recebem ajuda de uma paróquia na Zona Sul da cidade, que os auxilia na busca de documentação e emprego. Muitos possuem somente o pedido de refúgio aceito pela Polícia Federal, de curto prazo. Para a permanência, é necessária uma cédula de identidade de estrangeiro, expedida pelo Ministério da Justiça.
Acre continua emitindo carteiras de trabalho
A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Acre (SRTE-AC) em Rio Branco tem emitido diariamente uma média de 150 carteiras de trabalho a imigrantes. Nesta quarta-feira (14/05), eles lotaram a sede da superintendência em busca do documento.
Uma dessas pessoas foi o senegalês Simbara Dhani, que entrou no Brasil pela fronteira com o Peru. Há um mês no Acre, ele aguarda o recebimento dos documentos para a regularização no país.
Sem formação profissional, Simbara diz que pretende seguir para São Paulo onde tem intenção de trabalhar no campo ou na fabricação de móveis de madeira. “Pretendo sair do Acre e ir para São Paulo. Vim para o Brasil para trabalhar em serralheria, no corte de madeira, mas se tiver outra oferta de emprego eu também quero. Não tem ninguém da minha família aqui, por enquanto só tem eu”, disse.
O superintendente regional do Trabalho no Acre, Manoel Neto, afirma que o estado não tem condições de manter a entrada dos estrangeiros pela fronteira e sugere o seu fechamento por 60 dias. “Estamos sem estrutura física e material para atender a grande quantidade de estrangeiros que veem em busca de regularização junto ao Ministério do Trabalho, em Rio Branco. A questão é humanitária, mas nosso serviço é precário. Minha sugestão é fechar a fronteira por 60 dias para avaliar a situação do país”, diz Neto.
De acordo com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) continuam chegando todos os dias ao Acre uma média de 50 imigrantes.
Acordo bancário
A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo firmou um convênio com o Banco  do Brasil para a abertura de contas para imigrantes residentes em São Paulo. O despacho foi publicado na edição de anteontem do Diário Oficial da Cidade. O acordo tem duração de dois anos e, segundo a publicação, tem como objetivo garantir a cidadania aos estrangeiros. Não há detalhes de quais serão as exigências para que os imigrantes possam abrir conta bancária por meio do convênio.
A Redação + Agências

Fonte: http://oestrangeiro.org/2014/05/17/haitianos-evitam-blecauto-de-mao-de-obra/

quarta-feira, 14 de maio de 2014

TRABALHO ESCRAVO EXISTE?

Mais de 125 anos após a abolição da escravatura, o Brasil ainda combate uma versão moderna do tipo de trabalho forçado. Mais de 2 mil pessoas são libertadas todos os anos no país em condições análogas à de escravos.


Reportagem: Thiago Reis / Fotos: Sérgio Carvalho / Vídeos: Alexandre Nascimento
Se, por um lado, não existem mais correntes ou senzalas, por outro, são inúmeras as semelhanças relatadas por trabalhadores de condições que remetem a uma escravidão contemporânea.

Ameaças de morte, castigos físicos, dívidas que impedem o livre exercício do ir e vir, alojamentos sem rede de esgoto ou iluminação, sem armários ou camas, jornadas que ultrapassam 12 horas por dia, sem alimentação ou água potável, falta de equipamentos de proteção, promessas não cumpridas.

O Código Penal define uma pena de reclusão de dois a oito anos e multa para quem “reduz alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”.


Veja reportagem completa em

http://g1.globo.com/economia/trabalho-escravo-2014/platb/

domingo, 11 de maio de 2014


A hospitalidade para com os haitianos: quão humana é a nossa sociedade?

Leonardo BoffO drama das centenas e centenas de haitianos, vítimas de devastador terremoto, que, via o estado do Acre, buscam hospitalidade no Brasil, representa um teste de quanto humana é ou não é a nossa sociedade. Não queremos nos restringir somente aos haitinos, mas aos tantos que são expulsos de suas terras, posseiros, indígenas, quilombolas e outros, pelo avanço do agronegócio,  ou desalojados  como recentemente os do prédio da OI no Rio de Janeiro e que tiveram que se refugiar na praça da Catedral da cidade. Organismos da ONU nos dão conta de que existem no mundo mais de cem milhões de refugiados, seja por guerras, por problemas de fome ou climáticos e outras causas semelhantes. Quais Abraãos, andam por ai buscando quem os acolha. E quantas naves são rejeitadas tendo que vagar pelos mares no meio de todo tipo de necessidades e desesperanças.
A hospitalidade é um direito e um dever de todos, pois todos somos filhos e filhas da mesma Terra.
Basta lembrar os refugiados de África que chegam à ilha italiana de Lampeduza. Receberam a solidariedade do papa Francisco, ocasião em que fez as mais duras críticas à nossa civilização por ser insensível e perder a capacidade de chorar sobre a desgraça de seus semelhantes. Todos estes padecem sob a falta de hospitalidade e de solidariedade.        
No Brasil, nos jornais mas especialmente na mídias sociais, se  deslanchou acirrada polêmica sobre como tratar os haitianos desesperados e depauperados que estão chegando ao Brasil. O governador Tião Viana, do Acre, mostrou profunda sensibilidade e  hospitalidade acolhendo-os a ponto de, com os meios parcos de um estado pobre, não dar conta da situação. Teve  que pedir socorro ao governo central. Mas foi, de forma desavergonhada, injuriado por muitos nas redes sociais e no twitter. Aí nos damos conta de quão desumanos e sem piedade alguns podem ser. Nem respeitam a regra de ouro universal de não desejar ser tratado desta forma caso um dia se encontrem em semelhante situação. Segundo o notável biólogo Humberto Maturana, tais pessoas retrocedem a um estágio pré-humano, ao nível  em que se encontram hoje os chimpanzés, que são societários mas autoritários, nem sempre praticando a mutualidade.
É neste contexto que a virtude da hospitalidade ganha especial relevância. A hospitalidade — disse-o o filósofo Kant em seu último livro, A paz perpétua  (1795) — é a primeira virtude de uma república mundial. É um direito e um dever de todos, pois todos somos filhos e filhas da mesma Terra. Temos o direito de circular por ela, de receber e de oferecer hospitalidade.
A hospitalidade é  um direito e um dever de todos, pois todos somos filhos e filhas da mesma Terra
Um dos mais belos  mitos gregos se refere   à hospitalidade. Dois velhinhos muito pobres, Baucis e Filemon, deram acolhida a Júpiter e a Hermes que se tinham travestido de andarilhos miseráveis para testar quanta hospitalidade ainda restava sobre a  Terra. Foram repelidos por todos. Mas  foram calorosamente acolhidos pelos bons velhinhos que oferecem o pouco que tinham. Quando as divindades se despiram de seus trapos e mostraram a sua glória, transformaram a choupana num esplêndido templo. Os bons velhinhos se prostraram em reverência. As divindades pediram que fizessem um pedido, que seria prontamente atendido. Como se tivessem combinado previamente,  ambos disseram que queriam continuar no templo recebendo os peregrinos e que no final da vida ambos, depois de tão longo amor, pudessem morrer juntos. E foram atendidos.Filemon foi transformado num enorme carvalho e Baucis numa frondosa amoreira. Os galhos se entrelaçaram no alto e assim ficaram até os dias de hoje, como contam os passantes. E foi tirada uma lição que passou para todas as tradições: quem acolhe um pobre, hospeda o próprio Deus.
A hospitalidade exige uma boa vontade incondicional para acolher o necessitado e o que se encontra sob grande sofrimento.
Ela exige também escutar atentamente o outro, mais com o coração do que com os ouvidos para captar a sua angústia e a sua esperança.
Ela exige outrossim uma acolhida generosa, sem preconceitos de cor, de religião e de condição social. Evitar tudo o que o fizer sentir-se um indesejado e um estranho.
Importa dialogar abertamente para captar sua história de vida, os riscos que passou e como chegou até aqui.
Responsabilizar-se conscientemente junto com outros para que encontre um lugar onde morar e um trabalho para ganhar sua vida.
A hospitalidade é um dos critérios básicos do humanismo de uma civilização. A nossa vem marcada  lamentavelmente por preconceitos de larga tradição, por  nacionalismos, pela xenofobia e pelos vários fundamentalismos. Todos estes batem as portas aos imigrados ao invés de abri-las e, compassivos, compartilharem  de sua dor.
É nesse espírito que a hospitalidade para com nossos irmãos e irmãs haitianos deve ser vivida e testemunhada. Aqui se mostra se somos verdadeiramente um povo da cordialidade e da acolhida aberta a todos; o quanto temos crescido em nossa humanidade e melhorado nossa civilização.
* Leonardo Boff, teólogo e escritor, escreveu, entre outros livros, 'Hospitalidade: Direito e dever de todos' (Vozes, Petrópolis,  2005).
http://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2014/05/05/a-hospitalidade-para-com-os-haitianos-quao-humana-e-a-nossa-sociedade/