Na época da ditadura, o Estado não tinha apenas o monopólio, do poder político, mas também da imprensa e da economia. A liberdade era restringida a poucos, e os jovens, de espíritos renovados e pensamentos aflorados, eram reprimidos ao tentar se expressar. O conflito com o Estado era constante; a luta para ter voz, vez e lugar continuou incessante até a vitória da redemocratização – frágil vitória, diga-se de passagem. Logo na primeira eleição presidencial, veio a decepção da corrupção. A luta de mais de 20 anos, foi desprezada pelo ocupante do cargo de maior relevância na política brasileira. O que era desejo da juventude da época virou o pesadelo. O problema da corrupção desencadeia outros problemas: infraestrutura precária, desemprego entre a juventude, desigualdade social, educação deficitária e um sistema de saúde ineficaz.
O Estado, na sua configuração atual, tem como sua principal obrigação garantir a propriedade privada; mas que propriedade? Certamente não é a propriedade dos pobres. Eles têm muito pouco. E os jovens menos ainda, pois no processo econômico/social hodierno, os jovens, especialmente os oriundos de famílias pobres, tem dificuldades em conquistar o seu espaço. Aos olhos do pensamento neoliberal são fracassados, incompetentes para assumir responsabilidades. Não se coloca como tema de discussão a ausência de oportunidades para estes jovens. Um país historicamente desigual como é o Brasil necessita modificar a estrutura do Estado. Isto para que seja promotor da vida e compromissado com o bem de todos, principalmente da juventude marginalizada.
Porém, sabemos que a situação para quem está no poder, no controle do Estado ainda é confortável. A desmotivação da juventude e dos brasileiros em geral com a política da forma como é exercida, contribui para manter os dragões nos altos cargos, com altos salários.
Nesse panorama, de forma alvissareira, aparece o protagonismo juvenil. O mesmo protagonismo que ajudou a derrubar a ditadura no século passado. O mesmo fervor e a mesma luta. A acomodação não transforma, não revoluciona, não renova e não traz vida. A cultura da corrupção deve ser combatida no dia-a-dia, acabando com esta prática que assola o mundo, mas em especial o Brasil. O controle social aparece como uma ferramenta forte de toda a sociedade. Trará muitos benefícios, principalmente para os jovens. Utilização de espaços como conselhos e conferências, são os principais instrumentos de uma verdadeira democracia. Aquela que é exercida pelo povo em todos os seus atos. É nesses espaços que a juventude participa, clamando e denunciando, quando necessário. Os grupos de jovens, eles de igreja, política ou diversão, não são inúteis, pelo contrário, são neles que se amadurecem as ideias e a práxis. A Pastoral da Juventude, por exemplo, que comemora 40 anos em 2013, não participa da Igreja com o intuito de se fechar para si, mas para dar a vida por toda a juventude. Entre esses 40 anos de caminhada, diversas campanhas, mobilizações e encontros foram realizados. Destacamos a Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens, denunciando a morte de, em média, 54 jovens a cada dia no Brasil, sendo 80% negros. É compromisso do jovem com o Estado, denunciar essas mazelas e participar ativamente para destruí-las.
Seria preciso um estudo mais aprofundado para buscar soluções ao descompromisso mútuo entre Estado e juventude. O Estado tem a obrigação de promover a vida e a juventude de participar dessa promoção. Para o trabalho em comunhão, uma nova cultura há de ser implantada. Ultimamente o governo do país, devido as pressões de segmentos da juventude organizados, tem buscado criar melhores condições de vida para os jovens, em especial à juventude negra e pobre. Contudo, a melhoria das condições de vida é um processo lento, questão de tempo e de uma boa administração, também, de ambas as partes. Não obstante, não queremos apenas dinheiro e riqueza material para o amanhã. Como diz a música dos Titãs: “a gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte”.
O jovem vive hoje com muitos sonhos e desejos de agir e transformar as coisas que não concorda e não acha certo. É necessário afirmar que o jovem não é o futuro da sociedade, mas o presente, atuando de forma prática na comunidade onde está inserido. Tudo isso tem despertado a vontade de ter um envolvimento maior nas decisões e espaços onde pode estar contribuindo para que a cada dia a vida se torne melhor.
Atualmente muitos são os espaços que os jovens estão ocupando, tais como: conselhos municipais, cargos eletivos, movimentos sociais, grupos, grêmios estudantis e outros espaços de lideranças.
Paralela a essa vontade do jovem estar cada vez mais interessado e disposto a ocupar estes espaços, está a função das políticas públicas de juventude. Cabe aos governos chamar a juventude a participar dos processos de diálogo sobre o que pensa a juventude e quais são as suas necessidades mais urgentes. É neste momento que os jovens exercem a sua capacidade organização, para juntos construírem as políticas públicas necessárias aos jovens.
Outra tarefa do jovem que está inserido no meio social é a fiscalização do poder público, do destino dos recursos governamentais voltados à aplicação das políticas públicas. Cabe à juventude exercer o papel de cobrar e fiscalizar. Precisa estar presente em todas as etapas do processo, desde a elaboração das políticas públicas até a aplicação dos recursos destinados para tal fim e a sua gestão.
Queremos uma juventude que seja protagonista da sua história, participando se envolvendo e buscando alternativas. Queremos que o grito dos jovens ecoe pelos quatro cantos do País e seus anseios e desejos sejam concretizados. Afinal a juventude quer ser visível e quer que o Poder Público faça a sua parte no enfrentamento dos desafios propostos vai à luta com coragem e esperança.
Precisamos de uma juventude organizada em diversos espaços, pensando e debatendo as questões do jeito que sonha e acredita. Queremos um processo construído com a participação de todos, fazendo chegar às bases as conquistas e as mudanças. Não podemos ficar invisíveis ao poder público. Para isso precisamos estar em sintonia e termos claro aquilo que almejamos para, com muita luta e garra, irmos ao encontro do nosso objetivo maior, que é a concretização dos nossos sonhos. Sabemos que, somente inseridos nos espaços de discussão e construção coletiva, teremos a oportunidade de reafirmar os desejos que temos. O jovem precisa ser protagonista, ser agente de transformação por onde passa, deixando a marca do seu compromisso enquanto cidadão.
É nosso dever, enquanto jovens, cobrar do Poder Público os nossos direitos e a aplicação das políticas públicas de juventude. Não basta apenas reunir a juventude e colher sugestões, mas é preciso colocar em prática essas pretensões almejadas. Importante criar ambientes de diálogos, mas é necessário, e se faz urgente, a aplicação destas sugestões repassadas. Por outro lado, cabe a cobrança por parte dos jovens. Não devem aceitar que suas reivindicações fiquem apenas em registros, mas como mecanismos de transformação para melhorar a vida dos jovens.
É necessária a compreensão da diversidade juvenil. Precisamos de políticas públicas de inclusão social, frente a várias expressões juvenis existentes no País, com suas características e de acordo com aspectos sociais, econômicos e territoriais, garantindo assim que seja alcançado o objetivo que eles propõem.
Essa agenda de trabalho com a juventude deve estar na pauta das discussões políticas do Brasil, tendo em vista que os jovens compõe o grupo mais atingido pelas transformações que acontecem na sociedade.
Diante disso, cabe à juventude a mobilização, organização, diálogo, a presença nos espaços, a construção coletiva, e a cobrança também, cada um fazendo a sua parte e contribuindo cada vez mais com a sociedade que buscamos e acreditamos. Sonhamos com dias melhores e queremos uma juventude atuante com voz, vez e lugar, dialogando de forma aberta e respeitando a diversidade e as expressões juvenis, fazendo com que o Poder Público se sensibilize e realize os projetos que possam melhorar a vida da juventude, sempre pensando em todos. A juventude – pobre ou rica, rural ou urbana, negra ou branca – quer ser ouvida, quer ter direitos e deveres, quer transformar, quer a liberdade e quer viver. Da luta não nos retiremos; do Estado participaremos! Afinal, Estado para que e para quem? Vale a pena continuarmos a refletir.
Por Érico de Anhaia Martins, Matheus Fernandes da Silva, Wagner Azevedo – PJ Arquidiocese de Passo Fundo/RS.