segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pato Branco tem a maior comunidade de haitianos no Paraná


         Cerca de 300 imigrantes vivem hoje no município


Frutos de uma rota imigratória que foi intensificada depois das catástrofes naturais de 2010 no Haiti, o Paraná é o estado do Sul do Brasil que mais têm imigrantes, totalizando 511 cadastrados até julho pela Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu que trabalha com povos imigrantes.
Desse total, Pato Branco é a cidade que mais acolheu, dos referenciados pela congregação vivem aqui 227 haitianos, no entanto segundo o Padre haitiano Gustot Luciaen esse número é superior. “No Paraná temos haitianos em Marechal Candido Rondon, Maringá, Arapongas, Pato Branco, Loanda, Paranavaí, Londrina, Curitiba, Campo Largo e Cascavel. Se temos 511 cadastrados até julho, também temos certeza que esse número já evoluiu, somente em Pato Branco temos 227 relacionados, mas acreditamos que o número já se aproxime a 300”, afirmou o religioso.
Responsável por zelar pelas comunidades haitianas que vivem no Sul do Brasil, padre Gustot tem por objetivo acompanhar a realidade de seus conterrâneos. “Minha missão baseia-se no auxilio espiritual, ajudando basicamente na espiritualidade; colaborar na parte cultural, sabendo que a pessoa que migra não migra apenas ela, mas seus costumes e hábitos; e por fim a parte social que também está voltada a parte cultural, fazendo com que as pessoas celebrem suas raízes e mantenham vida suas origens mesmo estando em contato com outros povos”.
Dificuldades
Marcados pelas adversidades em seu país, muitos dos homens e mulheres que vivem hoje no Brasil começaram a migrar, principalmente de forma ilegal e com a ajuda de atravessadores, os ditos coiotes.
Entre as principais portas de entrada no território brasileiro, os estados do Amazonas e Acre receberam grande parte dos haitianos que se dispersaram em busca de melhores condições.
Sobre os relatos das rotas clandestinas o religioso comentou que muitos descrevem as travessias e os valores pagos aos coiotes. Valores que variam, o que segundo eles de acordo com a forma negociada com o agente. “Eles descrevem terem pagado US$ 2 mil, US$ 3 mil e até US$ 4 mil. Quando questionados eles respondem que depende da forma que se negocia com os coiotes”, disse descrevendo a forma de convencimento adotada para trazer os imigrantes, “muitos forma convencidos de que o salário mínimo brasileiro é muito alto, de que o pagamento de um mês se equivale a seis meses de trabalho no Haiti, assim muitos chegaram aqui com uma expectativa e acabaram se frustrando, porém agora já começam a entender a realidade que está vivendo”.
A chegada aos dois estados da região Norte também acabou por gerar uma nova oportunidade a empresários que buscavam mão de obra para suas empresas, assim inúmeras empresas cortaram o Brasil em busca de trabalhadores.
“É importante que se diga que o governo brasileiro facilitou bastante para dar a documentação permanente dessa população, ainda temos alguns imigrantes que não possuem a carteirinha, mas todos vão receber, sendo essa uma condição que também facilita para o trabalho”, disse padre Gustot, lembrando que a grande maioria dos instalados na região Sul forma trazidos por empresários com a garantia de trabalho. “Com a ajuda de empresários muitos saíram do Acre e do Amazonas para se instalarem no Sudeste e Sul, no entanto ainda existem os que migraram dentro do Brasil por conta própria, em virtude de relatos de amigos que já estavam trabalhando nas regiões”, completou.
Segundo ele a comunicação entre as comunidades permite ainda a troca de informações, relatando principalmente que no Sul a remuneração PE maior que nos estados do Norte.
Com uma realidade bastante diferente da vivenciada por anos no Haiti, muitos dos imigrantes estão relatando para o religioso que deve percorrer todos os municípios dos três estados do Sul a satisfação de estarem trabalhando. “Eles estão satisfeitos com a acolhida, claro existe um choque cultural, um processo de adaptação, mas tudo isso é normal. Muitos já passaram por um período de inverno aqui e comentam o frio, principalmente por na nossa terra não fazer frio. Na alimentação também possui uma diferença especialmente na forma de preparar e nem tanto nos temperos”, comentou o padre.
Condições de trabalho
Em um misto de contrastes, as leis trabalhistas brasileiras também soam como um grande diferenciador de culturas. “Eles relatam as diferenças existentes, como por exemplo, se aqui todo o empregado deve trabalhar com registro, em nossa terra não se é necessário; aqui as empresas recolhem INSS, lá não é uma obrigação que a empresa tem”, descreveu o religioso concluindo, “mesmo o pagamento, aqui a grande maioria das empresas pagam direto no banco, enquanto lá a forma de pagamento normalmente é feito direto ao empregado. Mas são todas situações que eles levam um tempo para se adaptar, e muitos já entendem esse processo”.
De acordo com padre Gustot otimistas, muitos desses trabalhadores já buscam maneiras de trazerem suas famílias, amenizando assim a saudade e as dificuldades da distância.

Fonte: http://www.diarioagora.com.br/noticias/pato-branco/10,3400,18,09,pato-branco-tem-a-maior-comunidade-de-haitianos-do-parana-.shtml

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