MPT investiga condições de trabalho de imigrantes em Londrina - PR
Onda migratória de haitianos e bengaleses na região é apurada; investigações se concentram nos frigoríficos, onde a maioria trabalha
Arquidiocese de Londrina reuniu ontem várias lideranças paroquiais para divulgar tema da campanha deste ano: "Fraternidade e Tráfico Humano"
Londrina – Em pesquisa divulgada em junho de 2012, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou que as vítimas do trabalho forçado e exploração sexual chegavam a 20,9 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que 14,2 milhões (68%) eram exploradas em trabalhos forçados em diversas atividades econômicas. No Brasil, essa realidade não é diferente. De acordo com estatísticas levantadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), de 2003 a 2012 foram registrados 62.802 casos de pessoas em trabalho escravo ou análogo à escravidão, a absoluta maioria do sexo masculino (95,3%). Além de brasileiros, vários imigrantes estavam nessa relação, especialmente peruanos e bolivianos.
Todos esses números, e a percepção de que o aviltamento à dignidade humana é uma realidade escondida, embasam o tema da Campanha da Fraternidade de 2014 escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): "Fraternidade e Tráfico Humano". A campanha será lançada oficialmente na Quarta-Feira de Cinzas, mas ontem a Mitra Arquidiocesana de Londrina deu início às atividades do calendário pastoral com um encontro entre várias lideranças paroquiais de sete dos 16 municípios que fazem parte da Arquidiocese. A reunião foi realizada no centro pastoral da Paróquia Nossa Senhora Rainha do Universo, no Jardim Alvorada (zona oeste) e teve o objetivo de promover a conscientização da comunidade para um tema que a própria Igreja Católica considera "difícil".
A problemática do tráfico humano e da exploração da força de trabalho joga luz a uma realidade local que vem preocupando movimentos sociais ligados à Arquidiocese e já tem sido objeto de investigação por parte do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Londrina e região: a crescente onda migratória de haitianos e bengaleses que vêm para cá em busca de emprego. Não há um número preciso, mas a Cáritas Arquidiocesana, que desenvolve ações sociais com parte desses imigrantes, estima que haja cerca de 400 bengaleses em Londrina, Rolândia e Jaguapitã. Os haitianos se concentram em Londrina, Cambé e Ibiporã e estariam em menor número. A maioria trabalha em frigoríficos e na construção civil. Segundo o setor de imigração da Polícia Federal (PF), eles chegam ao País como refugiados e tentam obter autorização de residência por razões humanitárias.
"Há uma investigação em curso e o que eu posso dizer é que uma das linhas é verificar se de fato se caracteriza como aliciamento a forma como as pessoas estão sendo contratadas ou não. Se você olhar diretamente, não é, mas há suspeitas de que há algo que possa se caracterizar como aliciamento", aponta o procurador do Ministério Público do Trabalho, Heiler Natali. De acordo com ele, as investigações se concentram nos frigoríficos.
O arcebispo de Londrina, dom Orlando Brandes, admite que as circunstâncias que envolvem a migração repentina de haitianos e bengaleses para a região preocupam a Arquidiocese. "Nós tivemos que recorrer à CNBB e a todos os órgãos da nossa realidade municipal, estadual e federal, para resolver esse problema da migração repentina de bengaleses e haitianos. Claro, alguns têm segurança e vêm trabalhar em frigoríficos da nossa região, mas outros não, a gente não sabe por que vêm, como vêm, e há suspeitas de que haja entre esses migrantes tráfico de pessoas", diz.
Continue lendo:
- Bengaleses são atraídos por salários
- ‘É preciso tocar nessa ferida’, diz dom Orlando
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Todos esses números, e a percepção de que o aviltamento à dignidade humana é uma realidade escondida, embasam o tema da Campanha da Fraternidade de 2014 escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): "Fraternidade e Tráfico Humano". A campanha será lançada oficialmente na Quarta-Feira de Cinzas, mas ontem a Mitra Arquidiocesana de Londrina deu início às atividades do calendário pastoral com um encontro entre várias lideranças paroquiais de sete dos 16 municípios que fazem parte da Arquidiocese. A reunião foi realizada no centro pastoral da Paróquia Nossa Senhora Rainha do Universo, no Jardim Alvorada (zona oeste) e teve o objetivo de promover a conscientização da comunidade para um tema que a própria Igreja Católica considera "difícil".
Aliciamento
A problemática do tráfico humano e da exploração da força de trabalho joga luz a uma realidade local que vem preocupando movimentos sociais ligados à Arquidiocese e já tem sido objeto de investigação por parte do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Londrina e região: a crescente onda migratória de haitianos e bengaleses que vêm para cá em busca de emprego. Não há um número preciso, mas a Cáritas Arquidiocesana, que desenvolve ações sociais com parte desses imigrantes, estima que haja cerca de 400 bengaleses em Londrina, Rolândia e Jaguapitã. Os haitianos se concentram em Londrina, Cambé e Ibiporã e estariam em menor número. A maioria trabalha em frigoríficos e na construção civil. Segundo o setor de imigração da Polícia Federal (PF), eles chegam ao País como refugiados e tentam obter autorização de residência por razões humanitárias.
"Há uma investigação em curso e o que eu posso dizer é que uma das linhas é verificar se de fato se caracteriza como aliciamento a forma como as pessoas estão sendo contratadas ou não. Se você olhar diretamente, não é, mas há suspeitas de que há algo que possa se caracterizar como aliciamento", aponta o procurador do Ministério Público do Trabalho, Heiler Natali. De acordo com ele, as investigações se concentram nos frigoríficos.
O arcebispo de Londrina, dom Orlando Brandes, admite que as circunstâncias que envolvem a migração repentina de haitianos e bengaleses para a região preocupam a Arquidiocese. "Nós tivemos que recorrer à CNBB e a todos os órgãos da nossa realidade municipal, estadual e federal, para resolver esse problema da migração repentina de bengaleses e haitianos. Claro, alguns têm segurança e vêm trabalhar em frigoríficos da nossa região, mas outros não, a gente não sabe por que vêm, como vêm, e há suspeitas de que haja entre esses migrantes tráfico de pessoas", diz.
Continue lendo:
- Bengaleses são atraídos por salários
- ‘É preciso tocar nessa ferida’, diz dom Orlando
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Diego Prazeres
Reportagem Local
Reportagem Local
Fonte: http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--2825-20140224&tit=mpt+investiga+aliciamento+de+trabalhadores+imigrantes
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