Senegaleses empreendedores são exemplos para ganeses em Caxias do Sul - RS
Cidade gaúcha recebe imigrantes em busca de vida melhor no Brasil.
Há quatro anos na cidade, alguns estrangeiros abriram o próprio negócio.
Há quatro anos em Caxias do Sul, Michel (E) é dono de uma gráfica (Foto: Carla Simon/G1)
Em busca de trabalho e de uma vida melhor no Brasil, centenas de ganeses deixaram seu país natal e começaram a desembarcar em Caxias do Sul, na serra gaúcha, há cerca de duas semanas. O mesmo caminho já foi percorrido anteriormente por imigrantes senegaleses e haitianos. Anos depois, alguns deles abriram negócios, prosperaram e hoje servem de exemplo para os estrangeiros recém-chegados.Desde o início de julho, mais de 350 ganeses passaram pela cidade. Aproveitando a Copa do Mundo, os estrangeiros entraram no país com vistos de turista, válidos por 90 dias, e decidiram ficar em busca de emprego e melhores condições de vida. Em Caxias, eles protocolam o pedido de refúgio, que garante a permanência legal no país até que a solicitação seja analisada pelo Comitê Nacional para Refugiados (Conare), vinculado ao Ministério da Justiça.
Há quatro anos, dois imigrantes senegaleses chegaram ao Rio Grande do Sul com o mesmo objetivo. Hoje, ambos comandam o próprio negócio. Cheikh Mbacke Gueye, ou Michel, como é conhecido pelos brasileiros, de 25 anos, é dono de uma gráfica no centro de Caxias. Abdou Lahat Ndiaye, carinhosamente chamado de Bili pelos amigos, de 27 anos, é proprietário de uma empresa de telefonia na cidade serrana.
Michel chegou a Minas Gerais em 2010, passou pelo Paraná e, por último, veio para o Rio Grande do Sul. O objetivo do senegalês era trabalhar em uma gráfica, já que no seu país de origem, exercia a função de diagramador. Em Minas não conseguiu o emprego que queria porque não dominava a língua portuguesa. Ele diz que no início, não falar português o impedia de conseguir um emprego melhor. “É difícil, mas depois que aprendi foi mais fácil a vida aqui”, diz Michel, que também fala francês e wolof, um dialeto africano.
Segundo Michel, vida no Brasil fica mais fácil com
domínio do português (Foto: Carla Simon/G1)
No Paraná, Michel trabalhou em um frigorífico durante três meses. Ficou sabendo de uma boa oportunidade em Passo Fundo, no Norte do Rio Grande do Sul, e morou no local por um ano e meio. Quando percebeu que dominava a língua portuguesa, partiu em busca do sonho: o de ter a própria gráfica. “Eu trabalhava com o meu pai em uma gráfica no Senegal, mas como a gente não se dava muito bem, resolvi vir para o Brasil”, detalha.domínio do português (Foto: Carla Simon/G1)
Michel ficou sabendo através do irmão, que morava em Minas Gerais, que a situação no país estava muito boa, que era fácil de conseguir emprego. Após três anos, conseguiu juntar dinheiro e visitar a família no ano passado no Senegal. “A passagem é cara, mas a vale a pena”, diz ele, sobre os mais de R$ 3 mil gastos na passagem de ida e volta.
O empreendedor diz que adora estudar e desde que chegou ao Brasil investiu na carreira que sonhava. “Fiz curso de AutoCAD, de manutenção de computadores e agora estou fazendo aulas para criar sites”. Michel sonha grande e já planeja dar aulas de francês e até fazer um filme. “Nós, senegaleses, somos muito trabalhadores. A gente gosta de serviço”, garante.
Início é o difícil para imigrantes, diz empreendedor
A história de Bili não é muito diferente. Ele chegou a Fortaleza em 2010 e viajou para Rio de Janeiro e São Paulo em busca de trabalho. “Me disseram que não tinha trabalho por lá, então resolvi vir ao Rio Grande do Sul porque conhecia senegaleses que moravam em Passo Fundo”, conta.
Bili (D) é proprietário de loja que oferece serviços
de telefonia (Foto: Carla Simon/G1)
No norte gaúcho, Bili trabalhou durante três meses em uma empresa do setor de alimentação, mas ficou sabendo de uma oportunidade melhor de emprego em Caxias. Foi então que decidiu viajar até a Serra para se estabelecer. Ele trabalhou durante três anos como operador de máquina em um frigorífico. Após juntar dinheiro suficiente, abriu uma loja que oferece serviços de telefonia para quem quer ligar para o exterior e de transferência de dinheiro. “Vi que faltava esse tipo de serviço aqui. Quando eu cheguei não sabia de onde ligar para casa ou mandar dinheiro. Então resolvi abrir a empresa”, recorda.de telefonia (Foto: Carla Simon/G1)
Bili conta que deixou o Senegal porque não encontrava emprego. Desde que veio morar no Brasil, visitou a família apenas uma única vez, mas sabia que tinha que retornar. “Senti falta de Caxias quando estava lá. Eu adoro essa cidade”. O senegalês diz que apoia os conterrâneos que chegam aqui. “Sei que é difícil para eles. Não é fácil conseguir um emprego que pague bem, mas tem que ter coragem e encarar os desafios”, aconselha.
Muitos compatriotas de Bili, porém, desistiram e voltaram ao país de origem. O principal motivo foi a decepção com o mercado de trabalho. “No início, eu ganhava o mesmo que ganhava no Senegal, mas a vida aqui é melhor”. De tanto que gosta da cidade, o empresário trouxe o irmão Ibu, de 22 anos, para trabalhar com ele. “É alguém da família por perto”, diz.
Hoje, o empresário leva uma vida confortável em Caxias. Ele é presidente da Associação dos Senegaleses na cidade e orienta quem chega que, no início, nada é fácil, mas as conquistas chegam aos poucos. Segundo Bili, no fim do ano passado, cerca de 700 senegaleses viviam na cidade. “Agora já passa de mil. É assim, um diz para o outro que está bom e eles vêm para cá”.
Fonte: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/07/senegaleses-empreendedores-sao-exemplos-para-ganeses-em-caxias.html
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