sábado, 9 de fevereiro de 2013


Um povo obstinado, concentrado e disciplinado. Assim são vistos os haitianos que chegaram ao Rio Grande do Sul em busca de oportunidade de trabalho. São cerca de 175 imigrantes que desembarcaram em solo gaúcho e hoje se espalham por sete municípios, fornecendo serviço para 16 empresas. A situação em que eles se encontram foi debatida em reunião realizada ontem na Assembleia Legislativa (AL), promovida pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH).
Cerca de cinco mil haitianos chegaram ao Brasil logo após o terremoto que devastou Porto Príncipe em 2010. A entrada no País é feita principalmente pelos estados do Amazonas, Acre e Rondônia. Algumas cidades ficaram conhecidas nacionalmente pela concentração de imigrantes, como Basileia (AC) e Tabatinga (AM). Logo as empresas nacionais viram neles uma forma de suprir a falta de mão de obra.
Todos os dias, milhares de pessoas se concentram nesses locais na esperança de serem recrutadas pelos representantes enviados pelas empresas. Mas o método utilizado gera críticas. “Nossa preocupação é que não haja uma mercantilização da mão de obra dessas pessoas. Queremos que o Brasil receba todos os povos de braços abertos, fazendo uma fronteira amiga”, ressalta o deputado Miki Breier (PSB), presidente da CCDH.
Em abril deste ano, a comissão recebeu uma denúncia de que quatro haitianos estavam trabalhando em situação de escravidão em Osório. Mas nada foi constatado, fora a falta de respeito aos direitos trabalhistas. Eles foram transferidos para Gravataí e hoje estão na fábrica de massas Romena, onde se encontram mais 20 colegas da mesma nacionalidade. Segundo o gerente da empresa, André Rosa, algumas das vagas preenchidas pelos haitianos estavam abertas há mais de um ano.
“Devido à evolução na economia, estávamos com sérios problemas de buscar mão de obra. A primeira coisa que fizemos foi ver se eles estavam regularizados com visto humanitário e carteira de trabalho”, explica. Ele assegura que o convívio está sendo o melhor possível.
“Há uma troca de cultura incrível. Em vez de os nossos colegas quererem ensinar o português, eles querem aprender o francês. Não tive nenhuma dúvida de que teríamos êxito com a experiência”, diz. Eron de Oliveira, superintendente regional do Ministério do Trabalho, corrobora. “A única coisa que ouço é pedidos para trazer mais haitianos para servir às empresas. Eles são obstinados e disciplinados.”
Trabalhadores comemoram oportunidade recebida
Se as empresas estão satisfeitas com o serviço prestado, os haitianos fazem questão de agradecer a hospitalidade. “Os brasileiros são maravilhosos”, elogia Jacksin Etienne, professor de cinco línguas que hoje ajuda na comunicação entre os colegas na Romena. Etienne conta que já havia tentado viver na República Dominicana, mas que os “problemas históricos” entre os países impediram. “Eu não sofria preconceito, mas sentia que meus conterrâneos eram diariamente hostilizados. Não tinha como viver bem.”
Após o terremoto, Etienne seguiu os conselhos de seu pai e regressou à República Dominicana. De lá, resolveu vir para o Brasil. “Não queria sair do Haiti, mas respeitei meu pai, que disse que lá eu nunca conseguiria nada. Muitos haitianos que estão na República Dominicana resolveram tentar a sorte no Brasil”, lembra. Ele chegou a Basileia em dezembro e foi um dos 14 primeiros selecionados para trabalhar na fábrica de Gravataí, há quatro meses. De ruim, apenas a saudade da família. “Meu sonho é que todos venham para cá. Quem sabe um dia isso aconteça.”
Porto Príncipe ainda não conta com ambulância
País mais pobre da América Latina, e com uma situação política tão complicada quanto seu quadro social, o Haiti é motivo de preocupação mundial. Tanto que desde 2004 existe a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), que conta com a presença do Exército brasileiro.
Apesar de notar alguns avanços após o período de pacificação, que terminou em 2007, os militares que voltam de lá ainda apontam um cenário de caos na capital Porto Príncipe: esgoto a céu aberto, falta de água, desnutrição e abuso sexual. A situação se complicou ainda mais com o terremoto que matou cerca de 222 mil pessoas em 2010. “Tudo o que tínhamos feito até então foi por água abaixo”, comenta James Bolfoni da Cunha, coronel de Cavalaria do Comando Militar do Sul (CMS).
Ele lembra que até hoje não existe circulação de ambulância em Porto Príncipe e que as patrulhas ficam responsáveis por encaminhar os doentes e feridos aos hospitais. “Elas só chegaram há seis meses, mesmo assim não estão sendo usadas”, conclui.
Fonte: http://www.vistobrasil.com.br

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