segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


Haitianos chegam a Jaraguá do Sul para trabalhar em fábrica de embalagens

Distância da família e a adaptação a uma cultura completamente diferente não foram as únicas dificuldades que os haitianos enfrentaram ao chegar


Haitianos chegam a Jaraguá do Sul para trabalhar em fábrica de embalagens  Diorgenes Pandini/Agencia RBS
Hoje, seis dos cerca de 30 funcionários da KS são haitianosFoto: Diorgenes Pandini / Agencia RBS

Há cerca de três semanas, quatro haitianos começaram uma nova vida em Jaraguá do Sul. Eles são parentes e amigos de um grupo que saiu do Haiti e trabalha na cidade há cerca de um ano, a convite do empresário Luiz José Stinghen. Todos vieram na esperança de fugir da miséria que assola o país, onde mais de 60% da população vive abaixo da linha de pobreza e que ainda sofre com a devastação causada por um terremoto, em 2010.

O destino dos quatro começou a mudar quando a jovem Fredeline Exalus, 27 anos, decidiu reencontrar o noivo Guimps Zephirin, que veio para Jaraguá no ano passado com mais cinco haitianos. Ao compartilhar sua decisão com os amigos Patrick Joseph, 30 anos, Johny Clairvil, 30 e Roudelin Severe, 28, eles decidiram vir também.

Em dezembro, os quatro saíram da capital Porto Príncipe e chegaram ao Acre, na distante e isolada cidade de Brasiléia, na fronteira com a Bolívia. Foi para lá que centenas de haitianos se mudaram na tentativa de procurar um emprego. Quando Stinghen soube que os jovens viriam para Jaraguá, mediou a vinda deles para a cidade. Além de garantir emprego para os três rapazes, também conseguiu moradias no bairro Barra do Rio Cerro, perto da empresa.

— Eles estavam apenas com o CPF e o protocolo de refugiados. Providenciamos então as passagens, as carteiras de trabalho e alugamos as casas —, conta Edelceu Scherer, gestor da KS Embalagens, no bairro Jaraguá 99. 

O grupo começou a trabalhar no dia 21 de janeiro e conta com a ajuda de uma tradutora, já que a maioria colegas fala o português. Entre si, eles falam em crioulo, língua oficial do Haiti, mas também francês, outro idioma oficial do país caribenho. 

Hoje, seis dos cerca de 30 funcionários da KS são haitianos. Eles ganham cerca de R$ 1,5 mil entre salário, aluguel, cesta básica, alimentação e ajuda de custo. 

— São pessoas muito dedicadas e estão sempre com disposição para trabalhar e com vontade de aprender —, elogia Edelceu.

A tradutora Deyse Maira Kluge, que acompanha os estrangeiros desde o ano passado, conta que uma das maiores dificuldades foi conseguir enviar o dinheiro para a família no Haiti, já que eles não conheciam o sistema do banco. 

— Admiro a força de vontade deles para superar as dificuldades —, diz. 

Planos para o futuro

A distância da família e a adaptação a uma cultura completamente diferente não foram as únicas dificuldades que os haitianos enfrentaram ao chegar em Jaraguá: eles também tiveram que aprender como funciona uma linha de produção, trabalho que até então nunca haviam realizado no país de origem. 

Patrick Joseph e Johny Clairvil eram caminhoneiros no Cabo Haitiano e Roudelin Severe era professor de educação infantil na mesma cidade.

Roudelin conta que quer trabalhar para garantir uma vida melhor para a mulher Darline Dossus e a filha Woodmieka Severe, de três anos. A saudade da família, no entanto, não desanima: o ex-professor quer juntar dinheiro para se dedicar aos estudos e cursar faculdade de medicina. No Cabo Haitiano, Roudelin trabalhava em duas escolas para ganhar um salário melhor. 

— Quero ser médico ginecologista, mas ainda não decidi se no Brasil ou no Haiti. Gosto de ajudar as pessoas —, comenta. 

Ele também diz que gostou muito da nova casa e do novo trabalho. 

— Meus colegas me receberam muito bem e estou aprendendo o serviço com a ajuda deles. Estou feliz.

O colega Guimps Zephirin, 30 anos, que veio a Jaraguá no ano passado, também faz planos para o futuro. A chegada da noiva Fredeline Exalus, 27 anos, que trabalhava como professora em Porto Príncipe, acabou com um ano de saudades e de conversas que aconteciam somente por telefone. 

— No futuro, queremos casar e ter filhos —, comenta.

Dos seis haitianos que vieram no ano passado, três permanecem em Jaraguá. Além de Guimps Zephirin, também continuam na empresa Windel Deronvill, 31, e Allin Joseph, 35. Allin, que é irmão de Patrick, mora com a esposa desde janeiro e agora é a vez de Windel completar a família - a noiva e o filho de três anos devem desembarcar hoje em Navegantes. Edelceu diz que a empresa planeja empregar as três mulheres assim que estiverem estabelecidas na cidade. 

Os três ex-funcionários que vieram do Haiti seguiram outros caminhos após a experiência em Jaraguá. Lindor Jesumaitre, 24 anos, e Nicolas Antoine, 37, mudaram-se para Porto Alegre depois de receberem proposta de emprego de um conhecido e Patrick Mlyssle, 31, foi morar na França com familiares.
Fonte: http://anoticia.clicrbs.com.br

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