domingo, 26 de maio de 2013

ONDA MIGRATÓRIA Bengaleses buscam refúgio no Norte e Noroeste do PR

Polícia Federal registra aumento dos pedidos de refúgio de cidadãos de Bangladesh nas duas regiões. Em Londrina, preocupação é pela falta de estrutura para receber os imigrantes
César Augusto
A Cáritas de Londrina recebeu 19 cidadãos do país asiático e dezenas deles estão pela região em busca de emprego; temendo pela segurança, preferem não se identificar
 
O Norte e o Noroeste do Paraná vivem uma pequena invasão de trabalhadores de Bangladesh. Sem informar a quantidade de pedidos, a Polícia Federal em Londrina apontou que tem recebido muitas solicitações de refúgio desses imigrantes. Já a Cáritas Arquidiocesana de Londrina, órgão ligado à Igreja Católica, recebeu no último mês 19 cidadãos do país asiático. Entretanto, segundo Márcia Ponce, gerente-administrativa da entidade, o número de bengaleses nos 16 municípios que integram a Arquidiocese de Londrina é bem maior. 

Apenas em Rolândia, há um grupo de 50 oriundos de Bangladesh e em Jaguapitã há outros 25, segundo a Cáritas. De acordo com a gerente, a maioria dos bengaleses não passa pela entidade – dos que estão em Rolândia, apenas 12 tiveram algum contato com a Cáritas. A primeira informação era de que os bengaleses viriam para trabalhar em frigoríficos da região, mas há muitos sem emprego. ‘‘Desses que estão em Rolândia, a maioria está desempregada. Em Jaguapitã, também’’, diz Márcia. 

Parte desses imigrantes é acolhida por grupos de conterrâneos, mas outros não têm para onde ir e recorrem a abrigos. ‘‘Aí existe um problema grave, porque os abrigos não dão conta nem da demanda interna’’, relata Márcia. No início de junho, o acolhimento de imigrantes de outros países na região de Londrina deve ser tema de uma reunião que vai envolver representantes da Polícia Federal, prefeituras e outras instâncias. 

‘‘Eles (bengaleses) chegam muito tensos: estão viajando há quatro dias, sem se alimentar, não sabem se comunicar. Um ou outro sabe falar alguma coisa em inglês’’, diz Márcia. 

A FOLHA entrevistou um bengalês que está em um abrigo na região de Londrina desde que chegou ao Norte do Paraná, na semana retrasada. Ele relata que ‘‘não conhecia ninguém’’, mas que escolheu o Brasil em razão da ‘‘economia forte’’. Sua rota teve várias escalas: saiu de Bangladesh, esteve em Dubai, passou por São Paulo, Lima, no Peru, e pela Bolívia, onde cruzou a fronteira por Corumbá (MS). 

Conta que teve de deixar o país de origem por problemas políticos, já que tem ligação com o principal partido de oposição ao governo atual. Vai solicitar refúgio ao governo brasileiro e pretende se estabelecer por aqui. ‘‘Gostei do Brasil, todos estão sendo muito gentis’’, elogia. Por enquanto, está desempregado. ‘‘Vou tentar aprender a língua e depois vou procurar emprego’’, afirma o bengalês, que fala inglês com sotaque forte. 

A preocupação com a segurança é grande entre o grupo. O entrevistado pela FOLHA e outros imigrantes de Bangladesh, que estavam no mesmo abrigo e conversaram brevemente com a reportagem, pediram mais de uma vez para que seus nomes não fossem publicados nesta reportagem. Só aceitaram ser fotografados contra a luz, para que seus rostos não fossem identificados. 

Por uma questão de sigilo, a Polícia Federal em Londrina não quis informar se há alguma investigação em curso para apurar se há grupos organizados aliciando bengaleses para que venham ao Brasil. 

Nos últimos dois meses, em operações diferentes, a PF desbaratou dois esquemas ilegais que traziam trabalhadores de Bangladesh para o Brasil, em Corumbá e no Distrito Federal. No segundo caso, há indícios de tráfico internacional de pessoas e trabalho escravo. 

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