terça-feira, 8 de outubro de 2013

Refugiados de Bangladesh chamam atenção dos Direitos Humanos

Desde maio, mais de 250 bengaleses desembarcaram na região de Londrina- Paraná, segundo a Cáritas Brasileira. Eles também lideraram os pedidos de refúgio.
O aumento incomum no número de refugiados vindos de Bangladesh, país asiático localizado a 16 mil quilômetros de distância, tem chamado a atenção de entidades de defesa dos direitos humanos de Londrina. Conforme a direção da Cáritas Brasileira na Arquidiocese de Londrina, desde maio mais de 250 bengaleses desembarcaram na região. Eles também lideraram os pedidos de refúgio. Atualmente, segundo a coordenadora-executiva local da Cáritas, Márcia Ponce, são aproximadamente 1.400 solicitações no Brasil sob análises do Conselho Nacional para os Refugiados (Conare), órgão ligado ao Ministério da Justiça.
A comunicação é difícil, já que não existe um idioma oficial – a maioria fala bangla, um dialeto derivado do hindi falado na Índia. “Todos chegam em grupo, de 2 a 5. Pelo menos um fala inglês, mas às vezes é quase impossível de entender”, apontou a coordenadora. Mesmo sem falar uma palavra em português, todos vêm com o endereço da Cáritas de Londrina anotado em folhas de papel. “Tem que ter um agenciamento. Me parece tudo muito pronto quando eles chegam aqui”, avaliou Márcia.
Cáritas pede mais cautela na análise dos vistos
Reuniões com as administrações municipais de Rolândia e Jaguapitã devem ser conduzidas nos próximos dias para que um protocolo de atendimento aos bengaleses seja criado, garantiu a secretária municipal de Assistência Social, Télcia Lamônica. O Ministério Público Federal e o Ministério Público do Trabalho também serão acionados.
A responsabilidade do poder público também é cobrada pela coordenadora da Cáritas, Márcia Ponce. “Enquanto não houver provas suficientes, todos serão tratados como refugiados. Mas essa avaliação não cabe só à Igreja. Esse papel precisa ser compartilhado pelo poder público”. Numa reunião realizada no último dia 28 com todos os bispos do Paraná, foi elaborado um documento que seria enviado ao Conare pedindo mais cautela na análise dos vistos para os bengaleses.
O pedido de visto é mediado pela Cáritas junto à Polícia Federal (PF), que expede uma autorização temporária de 180 dias até que haja um julgamento. “Antes esse processo levava até dois anos. Agora, temos casos em que a situação de refugiado é negada depois de apenas quatro meses”, comentou Márcia Ponce.
Por e mail, o gerente de Recursos Humanos da Big Frango, uma das empresas que mais emprega bengaleses – principalmente na unidade de Rolândia – explicou que os refugiados procuram o frigorífico por conta própria. “Uns fazem a propaganda e trazem os demais”, explicou Valdecir Bertoncello. Segundo ele, os refugiados são atendidos em inglês e são alocados em setores mais adequados ao porte físico, “menor”, nas palavras do gerente. Bertoncello garante que o salário dos bengaleses é o mesmo dos outros trabalhadores, “são registrados de acordo com a lei vigente e têm todos os direitos trabalhistas a que todos os empregados têm direito”.
O JL tentou contato com o procurador do Ministério Público do Trabalho em Londrina, Heiler Natali. Ele é Coordenador Nacional do Trabalho em Frigoríficos, mas não retornou as ligações. Na última tentativa, um de seus assessores informou que ele entrou em férias, e só deve retornar ao trabalho no mês que vem. (F.C.)
Refugiado fugiu de “polícia política”
A reportagem conversou com um refugiado bengalês, que pediu para não ser identificado temendo represálias a familiares que continuam em Bangladesh. Pedro (nome fictício) tem 47 anos, é divorciado e tem dois filhos – um de 27 e outro de 14 anos. Durante boa parte da vida trabalhou como consultor de marketing de uma multinacional em vários países do Oriente Médio, como Líbano, Jordânia, Dubai e Arábia Saudita. Com as economias do trabalho, voltou a Bangladesh e montou uma tecelagem.
Em meados deste ano, porém, a vida dele deu uma guinada. A troca de partidos no governo do país, de sunitas para xiitas, praticamente obrigou Pedro a sair de seu país. Os dois grupos são os maiores do islamismo, e têm divisões profundas. O então empresário disse ter sido surpreendido por uma espécie de “polícia política” quando chegou para trabalhar na fábrica de tecidos. “Eles me disseram que teria que pagar uma taxa, um imposto ao governo xiita só por eu ser sunita. Neguei o pagamento, e eles ameaçaram meus filhos e a mim de morte. No dia seguinte, eles sequestraram meus caminhões, meus equipamentos e me obrigaram a sair”, revelou.
Pedro seguiu para Dubai, onde mora o filho mais velho. A opção de vir para o Brasil surgiu durante o processo de tentativa de obtenção do visto americano. “Algumas pessoas me disseram para vir para cá, que eu seria bem recebido e que haveria trabalho”, comentou Pedro. A chegada a São Paulo, porém, não teve o resultado desejado. Ele teve o visto de permanência negado e seguiu para La Paz, capital da Bolívia. De lá seguiu para Santa Cruz de La Sierra, onde tomou um ônibus com destino a Corumbá, no Mato Grosso. Durante o trajeto, disse ter sido orientado a procurar a ajuda da Cáritas em Londrina, destino final do bengalês. Da recepção pela entidade à efetivação no novo emprego foram poucos dias. (F.C.) 


Os bengaleses fazem um longo caminho até chegarem a Londrina. A maioria, segundo Márcia, sai da capital, Dacca, segue de Dubai a São Paulo ou Rio de Janeiro. De lá, os refugiados vão para a Bolívia. Só então os bengaleses entram, em definitivo, no Brasil. “Eles não têm visto para o Brasil, e sim para a Bolívia. De lá cruzam a fronteira a pé e entram ilegalmente”, contou a coordenadora. De ônibus, os refugiados saem de Corumbá (MT) com destino ao Norte do Paraná.
A existência de uma rede de tráfico de bengaleses foi denunciada pelo jornal boliviano El Mundo. Uma reportagem publicada em 16 de setembro no site do periódico denunciou a prisão de cinco pessoas – três bolivianos e dois bengaleses – que estariam trazendo 31 pessoas de Bangladesh para serem vendidas no Brasil. De acordo com a reportagem, os bengaleses traficados teriam média de idade de 25 anos, e tiveram os passaportes apreendidos pela quadrilha.
De acordo com Márcia Ponce, o número de bengaleses que chegam à região de Londrina tem aumentado muito desde maio deste ano. As cidades de Rolândia e Jaguapitã são as que mais abrigam esses refugiados. Depois de conseguirem emprego, os bengaleses se agrupam em alojamentos montados de maneira precária em casas. “Sei que existe mais de 10 casas dessas em Rolândia. Cada uma tem 12, 15 pessoas morando no mesmo ambiente”, disse a coordenadora. A quantidade de refugiados instalados na região, porém, é desconhecida. A reportagem apurou que a Polícia Federal de Londrina recebe, por semana, 15 refugiados interessados em dar entrada no processo junto ao Conare.
Para a secretária municipal de Assistência Social, Télcia Lamônica, a situação dos refugiados é “difícil de atender”. Servidores da pasta fazem o primeiro atendimento, encaminhando os bengaleses à Cáritas e à PF. Em casos extraordinários, os estrangeiros podem ser recolhidos nos abrigos municipais. “Nossa estrutura não é preparada para atender a essas pessoas. Mal damos conta daqueles que estão em situação de vulnerabilidade social, que moram nas ruas. Que dirá atender a refugiados estrangeiros”, desabafou a secretári







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