quinta-feira, 28 de novembro de 2013


 07/11/2013 10h52 - Atualizado em 07/11/2013 13h10

Polícia Civil investiga carta que 




ameaça baianos no Vale do Itajaí -SC

Documento circula na internet e culpa migrantes por problemas na cidade.
Polícia Civil investiga origem da carta que apresenta indícios de crime racial.

A Polícia Civil está investigando uma carta que ameaça baianos e circula em Brusque, no Vale do Itajaí.  Sem autoria declarada, a carta supostamente de moradores circula nas redes sociais há cerca de uma semana. Nesta quinta (7) ou sexta-feira (8), suspeitos devem ser ouvidos e um inquérito aberto, segundo o delegado Juscelino Carlos Boos.
Conforme a polícia, titulado de "aviso para os baianos", o documento faz ameaças aos migrantes nordestinos que moram no município e apresenta indícios de crime racial. Entre outros aspectos, a carta responsabiliza os baianos pelos problemas na cidade envolvendo, principalmente som alto durante as madrugadas.
"É muito cedo para dizer se foi uma brincadeira de mau gosto ou se foi efetivamente uma ameaça. Estamos investigando a origem da carta, quem a fez circular e quem a escreveu, de qual site teria partido, como foi inserida na rede", explicou Juscelino Carlos Boos, delegado da comarca da Polícia Civil de Brusque. De acordo com Boos, a investigação é considerada complexa, pois já houve muitos compartilhamentos nas redes sociais. Foi através delas que a polícia soube do caso. A carta menciona ainda que moradores de Brusque teriam registrado boletim de ocorrência (B.O.) denunciando problemas com som alto na cidade. Entretanto, segundo a Polícia Civil, não há registro de B.O.s específicos sobre os casos.
A Polícia Militar está realizando um trabalho de comunicados através da imprensa local, principalmente através de rádios, para prevenir novas ações com o mesmo aspecto. De acordo com o coronel Heriberto Rocha Peres, comandante da Polícia Militar de Brusque, o objetivo é impedir que se propague a situação, que teria revoltado, além dos migrantes citados na carta, os próprios moradores de Brusque. "Alguém escreveu por dois ou três, não por toda a população. Estamos em um estágio avançado de legislação, não podemos permitir esse preconceito", afirmou o coronel. Segundo ele, o Setor de Inteligência da PM está contribuindo com a Polícia Civil.

SEMINÁRIO NO RS TEM DEBATE SOBRE MIGRAÇÕES TRANSNACIONAIS NO BRASIL

 
Porto Alegre, 18/11/2013 – O II Seminário de Mobilidade Humana, ocorrido na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na sexta-feira (8), teve como objetivo aprofundar o debate sobre as migrações transnacionais no Brasil e o impacto que têm nas políticas públicas para a garantia dos direitos humanos das pessoas em mobilidade. Representaram a Defensoria Pública da União as defensoras Ana Luisa Zago de Moraes, que atua em Santa Catarina, e Fernanda Hahn, no Rio Grande do Sul.
No painel intitulado Os desafios, dilemas e perspectivas das políticas migratórias no Brasil e no RS, as defensoras falaram sobre o que a temática representa para a Defensoria Pública da União. “Tratamos do trabalho desenvolvido pela DPU no que tange às dificuldades enfrentadas pelos migrantes para acesso às políticas públicas, e dos problemas existentes no que diz respeito à deportação e à expulsão”, disse Fernanda Hahn.
O seminário foi promovido pelo Fórum Permanente de Mobilidade Humana/RS – movimento que partiu de instituições voltadas à defesa de direitos de pessoas em processo de mobilidade – visando a fomentar e ampliar a rede de acolhimento, atendimento, integração sociocultural, assessoria, informação e de produção de conhecimento sobre a questão. Participaram ainda do evento representantes de organizações vinculadas ao Fórum Permanente, estudantes e antropólogos, além de migrantes e refugiados que deram o seu testemunho ao público presente.
Assessoria de Imprensa
Defensoria Pública da União

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Reunião da Pastoral do Migrante Regional Sul II em Curitiba  

Neste ultimo dia 19, representantes das dioceses de Foz do Iguaçu, Cascavel, Londrina e Curitiba estiveram reunidos para debater, articular as varias e novas demandas e desafios que temos com a realidade migratória.  Temos como prioridade situar e fortalecer a sociedade do novo que está presente, e que nós como igreja, sociedade civil e ou governo devemos ter propostas de ação para melhor atender os migrantes e imigrantes de varias nacionalidades que chegam ao nosso estado com esperança de vida melhor. Como podemos fazer?


Lucia Bamberg Valentim
lbag7@hotmail.com
Curitiba - PR

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Reunião discute atuação do Paraná no Fórum Mundial de Direitos Humanos

A Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Paraná realizará nesta terça-feira (19), das 14 às 17 horas, uma reunião de mobilização estadual em preparação ao Fórum Mundial de Direitos Humanos, que acontecerá de 10 a 13 de dezembro, em Brasília. A reunião, que discutirá as formas de participação de instituições públicas e da sociedade civil no fórum, além de outras atividades, será na sede da Federação da Indústria do Estado do Paraná (Fiep), em Curitiba.

O objetivo do Fórum Mundial de Direitos Humanos é promover o debate público sobre direitos humanos para tratar dos principais avanços e desafios do desenvolvimento social quanto ao respeito às diferenças, participação social, redução das desigualdades e enfrentamento de todas as violações de direitos humanos.

Além de compor o Comitê Organizador, a Secretaria da Justiça será responsável pelo desenvolvimento de atividades autogestionadas durante o Fórum Mundial. A secretária da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos Maria Tereza Uille Gomes, explica que, desta forma, a secretaria vai fomentar o encontro, a apresentação e a fundamentação de propostas, principalmente em torno das temáticas relacionadas aos direitos humanos, educação em direitos humanos e tecnologia e dignidade humana.

Participam da organização do Fórum Mundial de Direitos Humanos entidades da sociedade civil; instituições internacionais; governos federal, estaduais e municipais; poder judiciário; poder legislativo; e instituições de ensino, pesquisa e afins.
Fonte: http://www.aen.pr.gov.br/

sábado, 16 de novembro de 2013

Rede de trabalho escravo é desarticulada em Caxias do Sul - RS

Paraibanos tinham que vender mídias piratas para pagar supostas dívidas com empregador

Fotos: Cleberson Portela
Fotos: Cleberson Portela
Uma rede de trabalho escravo que utilizava pessoas oriundas do estado da Paraíba para comercializar CDs e DVDs piratas foi desmantelada durante uma operação da Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho em Caxias do Sul Quatro mandados de busca e apreensão foram cumpridos na manhã desta terça-feira (12/11), no bairro Esplanada. Três homens com idades de 45, 44 e 19 anos foram presos na Operação, denominada “Escravo Digital”. 

O delegado chefe da Polícia Federal em Caxias do Sul, Noerci Melo, explica que além do aliciamento dos paraibanos para trabalharem como vendedores ambulantes, os mesmos era alojados em locais precários, submetidos a jornadas exaustivas, além de serem impedidos de retornar para seu estado em razão de ameaças e dívidas contraídas com o empregador. Além das prisões foi apreendida grande quantidade de mídias, embalagens, além de equipamentos utilizados para produção e cópia de CDs e DVDs. As penas previstas para os crimes investigados podem chegar a 15 anos de reclusão.
por Cleberson Portela , dia 12/11/2013 às 14:05

quinta-feira, 14 de novembro de 2013




MIGRANTES, MUROS OU PONTES?

Estamos vivendo num mundo cada vez mais complexo e globalizado, onde o aumento das migrações internacionais, especialmente em nosso estado do Rio Grande do Sul se tornou algo evidente nos últimos anos, e seguirá sendo no futuro um dos temas centrais das agendas internacionais. As cifras divulgadas pelas Nações Unidas indicam que ao redor de 220 a 240 milhões de pessoas residem em um país distinto daquele que nasceram; 1,5 milhões estão no Brasil e 72 mil Rio Grande do Sul, destes em torno de mil são haitianos e mais mil senegaleses com um crescimento acentuado destes últimos, principalmente nas cidades de Caxias do Sul e Passo Fundo.
As políticas migratórias restritivas, os controles fronteiriços, as expulsões de migrantes irregulares, as assimetrias socioeconômicas, a pobreza, a falta de trabalho, os desastres naturais, os conflitos armados e outros conflitos internacionais, são fatores que seguirão forçando a milhões de pessoas a cruzarem as fronteiras nacionais para buscarem melhores condições de vida. A história mostra que os movimentos migratórios não podem ser freados com a construção de muros. A política mais adequada para a gestão das migrações é a construção de pontes de convivência e relação internacional.
As discussões entre os governo e as organizações internacionais sobre a melhor maneira de orientar o fenômeno das migrações internacionais, atualmente focalizadas nos aspectos demográficos, econômicos, culturais e da seguridade nacional, terão que considerar um dos aspectos mais desafiantes deste fenômeno: a convivência pacífica entre as comunidades locais e os imigrantes. Por um lado, os conflitos sociais e políticos regeneram os movimentos migratórios forçados. Por outro, as percepções negativas das populações locais frente aos imigrantes regeneram conflitos e hostilidades sociais, dificultando uma convivência harmônica entre ambos coletivos. Ambos aspectos revelam que são os próprios migrantes quem, junto aos atores sociais e políticos municipais, nacionais e internacionais, se convertem nos atores principais do debate.
Já faz alguns anos que se está promovendo, tanto no Continente Americano como em outras partes do mundo, processos de paz e reconciliação que buscam curar as feridas das migrações forçadas e das violações dos direitos humanos cometidos especialmente durante os governos militares. Ademais da resolução dos con-flitos do passado, estes processos são também chamados a colaborar na construção de uma paz sustentável, favorecendo assim a resolução dos problemas estruturais de injustiças e exclusão social que estão situadas na base dos conflitos atuais.
Neste contexto o Cibai-Migrações e a Igreja da Pompéia, em Porto Alegre, RS, são espaço de reflexão e debate sobre a necessidade de buscar soluções a essas dificuldades estruturais e culturais que impedem a convivência social harmônica, e sobre a necessidade de promover uma cultura de convivência pacífica entre os imigrantes e as comunidades de acolhida. Procurando incidir frente aos governos para que implementem políticas migratórias de respeito e proteção dos direitos de todos os migrantes e suas famílias, e o desenvol-vimento de propostas concretas que comprometam a todos e a cada um dos diferentes atores sociais e políti-cos na construção de uma cultura da acolhida, da solidariedade e da paz. Também empenhados na divulgação do compromisso da Igreja para a solidariedade com os imigrantes e suas famílias.

Para refletir:
1. No seu bairro e na sua cidade estão chegando migrantes?
2. Você conhece alguma iniciativa, da Igreja ou do Poder Público, no seu municipio que está sendo feita em favor dos migrantes?

Pe. João Marcos Cimadon, cs
Porto Alegre, RS
joaocimadon@yahoo.com.br

Audiência na Assembleia discute situação irregular de centenas de senegaleses em Caxias do Sul - RS


Foto: Por Bernardo Jardim Ribeiro/ Sul21
A vereadora Denise Pessôa, de Caxias do Sul, trouxe a questão para a Assembleia Legislativa | Foto: Por Bernardo Jardim Ribeiro/ Sul21
Débora Fogliatto
Desde outubro do ano passado, centenas de senegaleses chegaram ao município de Caxias do Sul, na serra gaúcha. A comunidade de imigrantes vindos do país localizado no noroeste africano já conta com mais de 600 pessoas apenas na cidade. Sem serem considerados refugiados, sem visto humanitário ou de trabalho, os senegaleses sofrem com condições precárias de moradia, saúde e trabalho.
A situação desses imigrantes foi tratada em audiência pública realizada pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa nesta quarta-feira (13). A vereadora Denise Pessôa (PT), que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Caxias do Sul, trouxe as reivindicações que já estão em debate na cidade. Alguns membros da comunidade de imigrantes também estiveram presentes, e foram representados pelo líder da Associação de Senegaleses, Abdou Lahat Noiaye, conhecido como Bili.
A audiência foi guiada pelo presidente da Comissão, Jeferson Fernandes (PT), e pela deputada Marisa Formolo (PT), que convocou a audiência. Ela afirmou que a convocação é decorrência do trabalho feito pela Câmara de Caxias. Marisa criticou a dificuldade em enquadrar os imigrantes de forma que eles possam adquirir documentos. “Entendo que para aceitar senegaleses dentro de um plano humanitário, é preciso critérios. Mas fome não é um critério? Falta de trabalho não é um critério?”, indagou.
Vereadora e senegaleses relatam dificuldades
O apoio aos senegaleses é dado principalmente pelo Centro de Atendimento ao Migrante, das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas, de Caxias do Sul, e pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Denise Pessôa, presidente da comissão, explicou os diversos obstáculos que os imigrantes enfrentam ao se estabelecer na cidade. “Eles encaminham pedido de refúgio, que muitas vezes é negado. Quando isso acontece, estão sujeitos a ser explorados em seus trabalhos”, lamenta.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/ Sul21
Vários senegaleses assistiram à audiência | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/ Sul21
Abdou Lahat Noiaye, o Bili, denuncia que diversos imigrantes se machucaram nos empregos nas fábricas e, por estarem em situação irregular, não receberam assistência por parte das empresas e, em alguns casos, foram demitidos. “Muitos têm dificuldade de acesso à saúde, porque no hospital não entendem o que eles falam. Em um caso, uma mulher grávida em trabalho de parto foi ao hospital, onde disseram que precisavam esperar alguém para traduzir”, conta.
De acordo com Denise, os cerca de 600 senegaleses chegaram à cidade em busca de emprego, e em sua maioria já estão trabalhando. Agora, a comissão tenta encaminhar vistos de trabalho para os imigrantes, embora esse tipo de documentação normalmente só seja fornecido para quem ainda não entrou no Brasil. “Quando a gente chega aqui, sofre mesmo, temos dificuldade com trabalho, moradia e com a língua. Além disso, a Polícia Federal demora meses para encaminhar os documentos”, narra Bili.
Sem documentos, os senegaleses não podem alugar imóveis, e também enfrentam problemas de moradia. “O albergue da cidade não aceita pessoas na situação deles. Se não fosse o Centro ao Migrante, muitos estariam na rua”, afirma. A congregação alugou uma casa durante um ano para abrigar alguns imigrantes, em parceria com a Prefeitura, que havia prometido construir uma casa de passagem, o que ainda não ocorreu.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/ Sul21
Abdou Lahat Noiaye, o Bili, denunciou as dificuldades que os imigrantes enfrentam | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/ Sul21
“O prefeito de Caxias disse que não pode dar atenção a isso porque precisa ‘cuidar dos nossos’. Os nossos é só quem nasceu em Caxias?”, indignou-se a vereadora, garantindo que os senegaleses “ajudam a construir nossa cidade no dia-a-dia”. Ela relata que há duas Caxias, “uma dos brasileiros e uma dos imigrantes”, que há dificuldades em conseguir qualquer avanço por parte do prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) e da secretaria de Assistência Social. Denise ainda se preocupa que a tendência seja a imigração aumentar, enquanto não há mudança de visão por parte da prefeitura.
Bili narra que, no Senegal, as famílias são grandes e frequentemente um membro vai para outro país, onde pensa que pode “encontrar uma vida melhor”. Ele explica que não há tantos trabalhos em seu país e que as pessoas que saem ajudam as famílias. “Chegamos aqui sem roupa, sem mala, sem dinheiro, sem nada. Precisamos trabalhar para mandar dinheiro para as nossas famílias”, conta.
Encaminhamentos
A Irmã Maria do Carmo, do Centro de Atenção ao Migrante, relatou que o número de pessoas aumentou muito nos meses de fevereiro e março deste ano. “Um primeiro grupo, que veio em outubro do ano passado, chegou com visto de turista. Mas esse ano muitos vieram pela fronteira do Acre, a partir do Equador”, relata. Ela defende que haja ações do governo que garantam que as pessoas não coloquem em risco suas vidas para chegar ao estado. “Sinto que estamos tratando de uma questão emergencial, extraordinária, de forma ordinária. Essas pessoas aceitam qualquer tipo de trabalho só para serem acolhidas”, afirma.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/ Sul21
Audiência terminou com encaminhamento de criação de grupo de trabalho | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/ Sul21
A dificuldade dos imigrantes de conseguirem se regularizar é atribuída a problemas na lei migratória. “Estamos presos a uma lei de 1980. As pessoas sem CPF não podem nem entrar no cadastro de programas sociais”, lamenta a antropóloga Denise Jardim, professora da UFRGS. Ela acredita que a própria Assembleia tem um “papel muito importante” no debate sobre imigrações.
O doutorando em Ciências Sociais Mumbadu Alfa Dialo veio de Senegal para estudar na UFRGS e acredita que a comunidade de estudantes do país pode ajudar na situação dos imigrantes de Caxias do Sul. “Os senegaleses que vêm para cá de forma irregular não são miseráveis, mas procuram vida melhor aqui. O Brasil é um dos melhores destinos atualmente, porque está em crescimento, enquanto a Europa está em crise”, expõe. Ele acredita que seja importante chamar para o debate a Embaixada do Senegal no Brasil, assim como o Itamaraty.
O deputado Jeferson Fernandes propôs unificar instituições para que sejam definidos quais problemas serão atendidos com prioridade. Ele lista especialmente a alimentação, a saúde e a moradia. O deputado sugeriu a criação de um grupo de trabalho estadual que conte com lideranças presentes na audiência, junto com o prefeito da cidade e outras instituições. A vereadora Denise afirmou que já existe um GT em Caxias do Sul em nível municipal, que pode ser integrado para ter mais força. Ela irá participar de uma reunião na sexta-feira da semana que vem (22) em Brasília para tentar obter vistos de trabalho para os imigrantes.
O senador Paulo Paim (PT) também se dispôs a ajudar, assim como o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social do rio Grande do Sul. Denise sugeriu que o Ministério Público também se envolva, assim como a Polícia Federal, com a qual já conseguiu contato através do gabinete do deputado Adão Villaverde (PT). A deputada Marisa Formolo também pediu que os estudantes senegaleses estejam presentes na reunião, assim como algum deputado federal e as secretarias nacionais de Direitos Humanos e Igualdade Racial.

domingo, 10 de novembro de 2013

Livro do Haiti é lançado em Curitiba - PR no evento sobre deslocamentos forçados e migração


Adriana Santiago
Adital

Adital"Deslocamentos Forçados, Fronteiras e Políticas Migratórias” foi o tema discutido no IV Seminário Nacional Cátedra Sérgio Vieira de Melo, realizado nesta segunda (30) e terça-feira (1) na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A Agência de Informação Frei Tito de Alencar para a América Latina (Adital) foi convidada para falar sobre o livro 'Haiti por Si' (foto) e dividir a experiência de buscar esperança na reconstrução de um país pelos seus próprios cidadãos. O evento reuniu interessados em discutir e se atualizar sobre direito internacional e legislação brasileira sobre refúgio e apatridia, integração local e políticas públicas para os refugiados no Brasil.
A programação abordou em mesas-redondas assuntos como Refúgio e Políticas Migratórias; Cartagena+30: Refúgios, Apatridia e Reassentamento; o Legado de Sérgio Vieira de Mello; Migrações, Fronteiras Políticas do Brasil e Mercosul. Além disso, foram apresentados trabalhos acadêmicos relacionados ao tema central.
A Cátedra Sérgio Vieira de Mello existe há 10 anos e passou a funcionar em alguns países da América Latina com a finalidade de difundir o Direito Internacional dos Refugiados e auxiliar na formação acadêmica e na capacitação de professores e estudantes. Sérgio Vieira de Mello atuou como representante especial do secretário Geral da ONU para o Iraque. Ele foi morto, junto a outros 22 funcionários da ONU, em um bombardeio contra a sede da Organização em Bagdá, capital do Iraque.
Haiti por Si
Em um momento especial do evento, o diretor da Adital, Ermanno Allegri, foi convidado para falar da experiência do livro Haiti por Si, que quer estimular a reflexão sobre a ajuda internacional naquela ilha do Caribe que não tem estimulado a refundação do país pelos haitianos, ao contrário, tem criado um circulo vicioso de ajuda emergencial e importação de gêneros e mão de obra, que não mexe com a produção interna e perpetua a relação de dependência internacional. O livro ainda chama a atenção para a falta de incentivo à soberania do país em termos políticos e de desestímulos às organizações sociais. Contudo, destaca experiências positivas desenvolvidas por haitianos, algumas vezes com ajuda de colaboradores internacionais que fogem à lógica da maioria, que poderiam ser replicadas e estimuladas, se houvesse mais empenho, vontade política e soberania. Também são apresentadas no livro-reportagem artigos com especialistas haitianos, além dos jornalistas haitianos e brasileiros que o escreveram.
O padre haitiano Gustot Lucien, foi um dos que saudaram o lançamento do livro. Ele mora no Brasil há nove anos e atualmente cuida do Centro de Atendimento ao Migrante, em Curitiba, cidade que hoje tem mais de mil haitianos legais. Para ele, iniciativas como esta, ajudam ao povo do Haiti a não esquecer a sua história de luta e trazer esperança para um futuro melhor. "Mostra que vale à pena manter viva a nossa história”. Padre Lucien, diz que a maioria dos haitianos que está no Brasil vem também de países vizinhos, em busca da documentação permanente oferecido pelo Brasil, além, é claro, das ofertas dos atravessadores. Ressalta que escuta muitos relatos de preconceito, mas também de boa acolhida. O religioso ainda chama a atenção para a exploração da mão de obra, pois pagam menos do que aos trabalhadores brasileiros e, muitas vezes, os dispensam sem qualquer direito trabalhista. Porém, aposta que a xenofobia brasileira não tem a mesma consistência do que na Europa, devido às raízes locais serem de muitas migrações também.
Para o coordenador do evento e professor da Universidade Federal do Paraná, José Antônio Peres Gediel , afirma que o lançamento do livro é uma forma de contemplar uma demanda local, devido ao grande contingente de haitianos em Curitiba e que impõe um debate sobre o tema Haiti e seus aspectos históricos, cultural e, principalmente, de sua reconstrução sustentável, apesar dos sucessivos problemas políticos, culturais e naturais. Para o professor, é importante ter uma visão e uma perspectiva de desenvolvimento estruturante.

Fonte: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=77927&langref=PT&cat=

sábado, 9 de novembro de 2013

SANTA SÉ PEDE COMBATE AO TRÁFICO DE PESSOAS

Tema esteve em discussão pela Academia Pontifícia das Ciências, a pedido de Francisco
A Academia Pontifícia das Ciências, da Santa Sé, apresentou hoje as conclusões da conferência internacional de dois dias sobre o tráfico de pessoas, que decorreu no Vaticano por iniciativa do Papa Francisco, apelando ao fim desta “escravidão”.
“Penso que o Papa fará algo importante com este material, uma mudança radical”, disse aos jornalistas o chanceler das Academias Pontifícias das Ciências e das Ciências Sociais, D. Marcelo Sánchez Sorondo.
A iniciativa que decorreu entre sábado e domingo contou com a colaboração da Federação Mundial das Associações de Médicos Católicos e desenvolveu o tema ‘Tráfico de seres humanos, escravatura moderna’.
O chanceler declarou que os trabalhos deixaram muitas propostas para enfrentar uma “situação dramática”, em particular no que diz respeito à “prostituição”.
“Alguns observadores acreditam que o tráfico humano irá ultrapassar o tráfico de drogas e armas em 10 anos, tornando-se a atividade criminosa mais lucrativa no mundo", indicou.
A Organização Internacional do Trabalho estima que haja 20,9 milhões de pessoas sujeitas a trabalho forçado e que cerca de dois milhões se vejam obrigadas a prostituir-se.
Outra das preocupações apresentadas pelo Vaticano foi o tráfico de órgãos, que pode envolver cerca de 20 mil pessoas.
“Foi o próprio Papa Francisco a pedir a realização deste seminário e vieram pelo menos duas pessoas que, em várias situações e durante muitos anos, trabalharam com ele quando era arcebispo de Buenos Aires”, disse D. Marcelo Sánchez Sorondo.
O professor Werner Arber, presidente da Academia Pontifícia das Ciências, afirmou que as várias formas de “manipular os seres humanos por interesse económico foram consideradas como formas modernas de escravidão”.
O presidente da Federação Mundial das Associações de Médicos Católicos, José Maria Simon Castelvì, declarou por sua vez que é necessária uma “mudança de época” em relação à prostituição, “uma forma de traficar seres humanos”.
“Há séculos que se tolera, mas vimos que (a prostituição) deve desaparecer”, acrescentou.
Em maio, numa audiência aos responsáveis do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI), da Santa Sé, o Papa condenou o tráfico de seres humanos, que considerou uma “vergonha”.
“O tráfico de pessoas é uma atividade ignóbil, uma vergonha para as nossas sociedades que se dizem civilizadas: exploradores e clientes, a todos os níveis, deveriam fazer um sério exame de consciência diante de si e diante de Deus”, declarou.
As questões do trabalho forçado, prostituição, tráfico de órgãos e outros tráficos criminosos vão ser debatidas numa conferência global, em 2015, de acordo com os responsáveis da Academia Pontifícia das Ciências.

Fonte: Agencia Ecclesia - 04.11.2013

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

16ª ASSEMBLÉIA NACIONAL DO SPM EM SÃO PAULO


Fonte: Jornal O São Paulo www.arquidiocesedesaopaulo.org.br 9
5 a 11 de novembro de 2013

II Seminário do Fórum Permanente da Mobilidade Humana no RS


Iniciou no dia deontem o II Seminário do Fórum Permanente da Mobilidade Humana do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Tem como objetivo aprofundar o debate sobre as migrações transacionais, no Brasil e RS e seus impactos sobre as políticas públicas na garantia de direitos humanos das pessoas em mobilidade.





"Migrantes são eles, migrantes somos nós. Na defesa da dignidade, erguemos nossos braços, levantamos nossa voz. Muitas etnias, uma só humanidade: este é o nosso compromisso". Viva o II Seminário do Fórum Permanente da Mobilidade Humana no Rio Grande do Sul (Elton Bozetto)

Fonte: www.facebook.com/radiomigrantes?fref=ts

Carta ameaça migrantes baianos em cidade de Santa Catarina

Uma carta intitulada "aviso para os baianos" circula nas redes sociais na última semana em tom de ameaça aos baianos que moram em Brusque, em Santa Catarina. No documento, que não é assinado, os moradores ameaçam matar os migrantes que, de acordo com eles, "perturbam o sossego" da população local.
A carta diz que Brusque foi invadida nos últimos cinco anos "por migrantes de outros estados, principalmente da Bahia, das cidades de Itabuna, Ilhéus e Buerarema". De acordo com o documento, a maioria desses migrantes está "incomodando a vida dos moradores locais fazendo um inferno como: ouvir música em alto volume".
O aviso diz que foi formado um grupo com 28 pessoas para "dar um basta nessa situação". Eles alegam que fizeram um levantamento e identificaram 34 carros e 22 motos de baianos, que, de acordo com eles, são desordeiros. O grupo afirma também que guarda fotos dessas pessoas.
No alerta, os moradores dizem que pretendem "eliminar" essas pessoas, matando os migrantes. A assessoria da Polícia Civil de Santa Catarina disse que não foi registrado Boletim de Ocorrência (B.O) sobre o caso, o que impede que a suposta ameaça seja investigada.
Confira a íntegra da carta:
http://atarde.uol.com.br/materias/1546974


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

TRÁFICO DE PESSOAS, BRASIL ENTRE OS 10 PRIMEIROS


Brasil está entre os dez países com mais vítimas do tráfico de pessoas. Comissão na Câmara sobre o tema recebeu 21 denúncias da prática e apresenta 24 propostas de mudanças na lei

EVANDRO ÉBOLI 
O GLOBO
BRASÍLIA - A CPI do Tráfico de Pessoas na Câmara identificou a ocorrência de exploração de seres humanos em vários locais do país e nas mais diversas atividades e tipos de vítimas: de atleta mirim de escolinha de futebol à modelo fotográfico e de crianças para adoção a garotas de programas em bordéis. Para enfrentar o tráfico de pessoas, a comissão apresenta nesta terça-feira propostas de mudanças na legislação e propõe que o crime seja considerado hediondo. A CPI concluiu que o Brasil está entre os dez países com mais vítimas do tráfico internacional de pessoas.

Durante um ano e meio de trabalho, a comissão ouviu depoimento de 50 vítimas e recebeu 21 denúncias de ocorrência de tráfico de pessoas. No relatório final, que será apresentado em dezembro, a CPI vai recomendar ao Ministério Público Federal e ao Poder Judiciário o indiciamento de várias pessoas envolvidas na prática desse crime. O presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), afirmou ser necessária uma legislação mais dura e que tipifique de forma bem clara o tráfico de pessoas, que muitas vezes ocorre como um aparente gesto de boa ação.

- Não temos consciência da gravidade e da complexidade desse crime. É uma prática que ocorre escondida, disfarçada. O algoz se apresenta como praticando uma boa ação e isso dificulta a investigação. As pessoas não sabem que estão sendo vítimas de um crime. Um crime hediondo - disse Arnaldo Jordy.

Nesse período, a CPI tratou do tráfico de crianças no interior da Bahia; adoção irregular de menores no interior do Paraná e de Santa Catarina com ramificações nos Estados Unidos; tráfico de mulheres de Salvador para a Espanha; tráfico doméstico de mulheres para prostituição em bordéis próximos a usina de Belo Monte; o aliciamento e o tráfico de travestis nordestinos e da região Norte para São Paulo e Rio; aliciamento de modelos fotográficos brasileiras para a Índia; tráfico de atletas mirins em escolas de futebol do interior de São Paulo e em Sergipe; recrutamento de bolivianos para trabalhar em empresas de confecções no Brasil e a venda de bebês por até R$ 50 mil em redes sociais.

Em relação ao tráfico de jogadores de escolinha de futebol, Jordy explicou que identificaram casos de desaparecimento de garotos, de meninos vítimas de abuso sexual, de maus tratos, de contratos enganosos que perderam os laços com a família.

No Código Penal, a CPI propõe ampliar as possibilidades de alguém ser indiciado por promover, ou traficar, mulheres para a prostituição, seja no exterior ou internamente. Hoje, quem promove ou facilita a entrada ou saída para o exterior de alguém que vai se prostituir responde a processo. A comissão deixa claro esse conceito e criminaliza quem recruta, aloja, acolhe, transporta e transfere pessoas para a exploração sexual. A pena mínima de reclusão passou de três para cinco anos, até o máximo de oito, além de multa.

A CPI propõe ainda aumentar de 14 para 16 anos a idade mínima para se começar a trabalhar. É uma alteração na idade de quem trabalha como aprendiz. A comissão quer também ampliar o conceito de trabalho escravo e não restringir esse tipo de exploração a jornada exaustiva, condições degradantes e restrição de locomoção. Quem forçar o empregado a contrair dívidas, comprometendo seu salário, também incidirá no crime de exploração de trabalho escravo.

A CPI do Tráfico de Pessoas quer mudar o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código Penal, a Lei Pelé, a Lei do Tráfico de Pessoas, a lei que regulamenta a profissão de artista, a de crimes hediondos e a de remoção de órgãos.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

FAS descarta espaço para acolhimento dos senegaleses

Grupo de quinze chegou a Caxias do Sul - RS na última semana e recorre ao CAM; Espaço na antiga Gazola foi desocupado

A diretora de Promoção e Cidadania da Fundação de Assistência Social (FAS), Alda Lundgren, afirma que Caxias do Sul recebe pessoas de vários municípios do estado, além dos senegaleses. Desta forma, ela considera difícil atender somente a demanda do país africano.

A FAS tem ideia prematura de apoiar o Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), entidade conduzida pelas irmãs carlistas, para a construção de uma Casa do Migrante, mas a intenção é iniciar reuniões de planejamento sobre a possibilidade somente em 2014. A diretora destaca, ainda, que a falta de documentação dos imigrantes do Senegal dificulta a ação do poder público.

Ela considera que o número de senegaleses que chegam a Caxias está diminuindo. Alda explica que eles foram orientados a não trazer familiares antes de estarem estabilizados já que Caxias não tem condições de recebê-los. 

Mais de 500 senegaleses estão na cidade. Na última semana, quinze novos conterrâneos recorreram ao CAM, localizado no Desvio Rizzo, por não ter onde passar a noite. O Centro não conta mais com local para encamnhá-los desde que devolveram uma casa alugada em setembro. O espaço que foi cedido nas dependências da antiga empresa Gazola para moradia provisória dos estrangeiros foi devolvido.

Cresce a presença de estrangeiros trabalhando em Joinville - SC

Idioma é o principal desafio das famílias que vieram de outros países

A mexicana Cecília e os filhos moram há quase dois anos em Joinville
A mexicana Cecília e os filhos moram há quase dois anos em Joinville
A mexicana Cecília Eguiluz, de 34 anos, mudou-se da região de Monterrey para Joinville em janeiro de 2012. O marido trabalha na multinacional Brunswick, e a principal missão dela é fazer com que os filhos de nove, sete, quatro e dois anos, consigam se adaptar à nova vida.

A mãe acompanha de perto todas as atividades, dedica tempo para as brincadeiras com os pequenos e administra as surpresas no caminho. Chegando ao País do futebol, seu filho mais velho estava convicto de que se tornaria um craque. Mas não encontrou um lugar para treinar futebol sem interferir nas aulas de horário integral e teve de trocar a bola pela capoeira.

Situações cotidianas como esta podem virar um grande problema quando se está em um país com língua e cultura totalmente diferentes. Cecíla está bem habituada ao Brasil e não tem problemas para se comunicar. Mas o idioma costuma ser a principal barreira para estrangeiras com uma história como a dela.

Enquanto o companheiro fala inglês com os colegas na empresa, elas se depararam com as dificuldades do português nas tarefas do dia a dia – desde achar uma escola até falar com um médico.

O número de estrangeiros em Joinville ainda não é expressivo, mas cresce rapidamente. Os atendimentos para confecção de carteiras de trabalho para pessoas de outras nacionalidades praticamente dobraram nos últimos seis meses, constata a chefe do setor de trabalho, emprego e renda do Ministério do Trabalho na cidade, Maysa Santos.

O município, que começou a oferecer o serviço em setembro de 2012 – antes era feito em Florianópolis – recebe, em primeiro lugar, refugiados haitianos. Em seguida, e em curva crescente, estão profissionais de diferentes países, como o marido de Cecília, que chegam com contrato assinado para trabalhar em multinacionais na região Norte.

Apenas na empresa de Danielle dos Santos, que presta serviço de imigração e de socialização aos estrangeiros em Joinville, passaram, neste ano, cinco alemães, um suíço, três mexicanos, três norte-americanos e cinco italianos. Eles ocupam posições técnicas ou de liderança e trazem a família para passar alguns meses ou para construir uma vida no Brasil.

Carta 16ª Assembleia Nacional do Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM


 "O BEM VIVER NA MISSÃO COM OS MIGRANTES!"

BRASIL CASA DE DIFERENTES POVOS: NOSSA CASA Às Igrejas, aos Governos, à Sociedade Civil e às pessoas em situação de êxodo e vulnerabilidade

CONTEXTO DAS MIGRAÇÕES HOJE

“Hoje, o vasto fenômeno migratório constitui, cada vez mais, um importante componente da interdependência crescente entre Estados e Nações que concorrem para definir o evento da globalização; esta abriu os mercados, mas não as fronteiras. Derrubou os limites para a livre circulação da informação e dos capitais, mas não, na mesma medida, para a livre circulação das pessoas”. (EM. 4) No entanto, as migrações atuais constituem o maior movimento de pessoas de todos os tempos, envolvendo mais de duzentos milhões de seres humanos. Nestas últimas décadas, tal fenômeno transformou-se em realidade estrutural da sociedade contemporânea e constitui um problema cada vez mais complexo do ponto de vista social, cultural, político, religioso, econômico e pastoral; “milhões de pessoas migram, ou se veem forçadas a migrar dentro e fora de seus respectivos países; as causas são diversas e estão relacionadas com a situação econômica, as várias formas de violência, a pobreza e a falta de oportunidades para a pesquisa e o desenvolvimento profissional”.
 (DA.73)

O COTIDIANO DOS MIGRANTES E SUAS CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS

Quantos irmãos e irmãs migrantes já não sofreram algum tipo de violência, de abandono e de exploração? E quantos já não sentiram medo, solidão, insegurança, rejeição e todo tipo da discriminação? Quantos não foram vítimas da propaganda enganosa, de exploração no trabalho ou violência sexual? Muitos são obrigados a permanecer no local de trabalho sem sair para o descanso, o lazer, para celebrar ou estudar, com o argumento de que devem pagar dívidas contraídas com viagens, alimentação ou aluguel... Outros sofrem ameaças e pressões por falta de regular documentação. Outros ainda sofrem o abuso de autoridades, agentes policias e profissionais corruptos, que se aproveitam da situação dos migrantes para cobranças ilegais. Quantas mulheres e crianças sofrem violências emocionais, físicas, sexuais e psicológicas dentro de seus próprios lares? Quantas crianças são vítimas de discriminação por não terem o acesso à educação e à saúde, pelo simples fatos de serem diferentes e por falarem outra língua? Muitos jovens procuram realizar seus sonhos por caminhos sem volta, nas drogas, no alcoolismo, no contrabando e na violência. Outros adoecem por excesso da jornada de trabalho ou por condições precárias. Quantos estão presos, longe da pátria, sem uma visita ou o consolo de um amigo? Quantas famílias se dividem e se desestruturam por falta de apoio e acompanhamento? Outros tantos devem fugir da violência das guerras para salvar suas vidas e deixando tudo para traz acabam como refugiados em acampamentos precários e sem as condições mínimas necessárias para viver om dignidade.
Quantas irmãs (os) com suas vidas atropeladas, obrigados a fugir de suas cidades, países e regiões, por causa dos fenômenos violentos da natureza (secas, vulcões, terremotos, tsunames, enchentes...). Quantos migrantes são explorados e escravizados no agronegócio, nas grandes obras e empresas em vista dos mega eventos. Quanta dor e sofrimento que carregam os retornados e deportados por causa das fronteiras militarizadas. Por causa da criminalização das migrações e a crise mundial, os quais se encontram em situação de depressão, de difícil reintegração social e de frustração em seus lugares de origem. Que triste ver a situação permanente de uma migração silenciosa e invisibilizada dos povos indígenas, donos desta terra, os quais longe de serem reconhecidos, são excluídos, reprimidos e empurrados mata adentro pela força irracional do capital e do sistema neoliberal. “Essa situação precária de tantos migrantes, que deveria provocar a solidariedade de todos, causa, ao contrário, temores e o medo de muitos, que olham os imigrantes como um peso, ou como suspeitos e os consideram uma ameaça, com frequentes manifestações de intolerância, de xenofobia e de racismo.” (DA. 377) Diante de tanta violência o Papa Francisco falou com muita firmeza: “Existe um juízo de Deus e também um juízo da historia sobre nossas ações ao qual não se pode fugir.” Basta de guerra e de violência de qualquer tipo. Vamos construir a Paz fundamentada na justiça.

AS DIFERENTES CULTURAS: UMA RIQUEZA PARA O NOSSO PAÍS, PARA A SOCIEDADE E PARA AS IGREJAS

As pessoas que migram, longe de serem problemas, são sobretudo um dom e uma oportunidade para o caminho da humanidade. Elas nos ajudam em nosso trabalho, nos obrigam a abrir a mente, as economias e nossas políticas. Essas pessoas nos estimulam a buscar novos modelos e a derrubar fronteiras. Elas nos revelam que todos somos filhos e filhas amadas de Deus. Somente juntos poderemos enfrentar este desafio e abrir nosso mundo ao um futuro diferente, onde que para o migrante “a pátria é a terra que lhe dá o pão”. (Scalabrini) Ao mesmo tempo quanta riqueza elas trazem ao nosso país e às comunidades com sua presença e cultura, com sua resistência e fé na possibilidade de um futuro diferente. Quanta beleza e profundidade contida nas suas simbologias, devoções religiosas e celebrações! Quanta contribuição sociocultural elas trazem através dos seus trabalhos e criatividade! Quanto os imigrantes colaboram com uma visão comunitária da vida, expressando gestos de solidariedade e sensibilidade! Neste sentido a migração humana é ocasião propícia para o diálogo e a acolhida. “Os migrantes são igualmente discípulos e missionários, chamados a ser uma nova semente de evangelização, a exemplo de tantos missionários que trouxeram a fé cristã à nossa América Latina”. (DA. 412) Tudo isso também podemos dizer e afirmar com relação aos brasileiros no exterior. Os migrantes são verdadeiros agentes político-sociais, protagonistas da historia e profetas da paz e da esperança, que denunciam um sistema injusto e anunciam um novo mundo. (Migrantes, Imigrantes, Refugiados, Apátridas, Temporários, Estudantes Internacionais...)

PAULO MIGRANTE POR VOCAÇÃO E EXEMPLO DE DISCÍPULO E MISSIONÁRIO NAS DIFERENTES CULTURAS E POVOS DO SEU TEMPO

Em comunhão com todas as Igrejas, colocamos como exemplo de discípulo e missionário o Apóstolo São Paulo, ele que soube trabalhar e se relacionar com as diferentes culturas e que soube dialogar com a riqueza dos povos propondo a Boa Notícia da salvação de Jesus. O Papa Bento XVI o qualificou como “migrante por vocação”. A Igreja nascente teve nos migrantes um importante impulso missionário propagador do Evangelho, neste contexto a figura de Paulo é para nós um exemplo singular e referência para os que se encontram em mobilidade. Este apóstolo sabia bem que só em Cristo a humanidade pode encontrar redenção e esperança. Por isso sentia como urgente e obrigatória a missão de anunciar “a promessa da vida que há em Cristo Jesus” (2 Tm, 1,1) “nossa esperança” (1 Tm, 1,1) para que todos os povos pudessem participar da mesma herança e ser “beneficiários da mesma promessa” no Cristo Jesus, “por meio do evangelho” (Ef 3,6).“Portanto, Deus que é amor, é quem conduz
a Igreja rumo às fronteiras da humanidade”. (DC.7) .A exemplo de Paulo, somos enviados ao encontro dos migrantes e a nos comprometer em tornar discípula missionária toda a comunidade, paróquia, diocese e a toda a Igreja.
 A IGREJA SAMARITANA, MÃE E AMIGA NA CAMINHADA.
A Igreja, como mãe, sente-se como uma Igreja sem fronteiras, Igreja familiar e peregrina como Povo de Deus em caminho, atenta ao fenômeno crescente da mobilidade humana em seus diversos setores. Considera indispensável a formação de uma mentalidade solidária e uma espiritualidade do serviço pastoral aos irmãos em situação de mobilidade, estabelecendo estruturas nacionais e diocesanas apropriadas, que facilitem o encontro dos migrantes com a Igreja local”. (DA. 412) O Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM quer assumir sua missão, unindo critérios e ações que favoreçam uma permanente atenção aos migrantes. “Faz-se necessário reforçar o diálogo e a cooperação entre as Igrejas de saída e de acolhida, a fim de dar uma atenção comunitária e pastoral aos que estão em situação de mobilidade; apoiando-os em sua religiosidade e valorizando suas expressões culturais e em tudo aquilo que se refira ao Evangelho. É necessário, que nos seminários e nas casas de formação se tomem consciência sobre a realidade da mobilidade humana, para dar a esse fenômeno uma resposta pastoral. Também se requer a preparação de leigos, agentes e lideranças que com o sentido cristão, profissionalismo e capacidade de compreensão possam acompanhar aqueles que chegam, como também às famílias que permanecem nos lugares de saída”(DA. 413). 3

 SOMOS CAMINHANTES E RESPONSÁVEIS POR UM MUNDO NOVO, DIFERENTE, URGENTE E NECESSÁRIO: O MUNDO DO BEM VIVER

Fazemos também um apelo a toda a sociedade e ao Poder Público para o compromisso de criar políticas públicas e leis migratórias que garantam às pessoas em mobilidade a plena cidadania, conforme está na Constituição (Art. 05) que garante um tratamento igual a “todo Brasileiro e Estrangeiro residente” em nosso País e em base a Carta dos Direitos Humanos n° 13 da Organização das Nações Unidas–ONU- 1948. O Brasil sendo um País que nasceu, cresceu e se fortaleceu com a presença dos migrantes internos e de diferentes países, deve se colocar em sintonia com o Marco Jurídico Internacional dos Direitos Humanos e com as exigências da nova lei de Residência Regional do Mercosul. É tempo de diálogo com o diferente para fortalecer as relações interculturais e dar exemplo para o mundo que os tempos mudaram, e, que isto é possível com vontade política. Para este passo de qualidade é necessário assinar e ratificar a Convenção Internacional da Organização das Nações Unidas - ONU de 1990 que trata do cuidado com os direitos humanos dos migrantes e seus familiares. Neste sentido denunciamos todo tipo de violação aos direitos humanos das pessoas em mobilidade em nosso País. Expressamos nossa indignação pela situação de“desnacionalização de dezenas de milhares de dominicanos e dominicanas de ascendência estrangeira, em particular haitiana, estão sofrendo em consequência da Sentença 0168-13 emanada pelo Tribunal Constitucional da República Dominicana no dia 23 de Setembro de 2013”. Reconhecemos e agradecemos o trabalho da Pastoral do Migrante em seus regionais e setores, nas paróquias, comunidades, dioceses, congregações, organismos, entidades, associações e de forma especial à Família Scalabriniana, com seu carisma específico ao serviço entre os migrantes na Igreja. Conclamamos mais pessoas, agentes, profissionais e comunidades para somar forças ao serviço do migrante e das pessoas que sofrem. Façamos da Campanha da Fraternidade, Semana do Migrante (15 a 22/06/2014) e do Dia Internacional do Imigrante (18 de Dezembro) espaços de sensibilização e participação.

SONHANDO COM A CIDADANIA UNIVERSAL, JUNTO AOS MIGRANTES

A Migração revela um sistema injusto, com estruturas que concentram cada vez mais capitais e riquezas e excluem milhões de seres humanos obrigando-os a migrar para sobreviver e salvar suas vidas. Ao mesmo tempo anuncia um mundo novo sem violência aonde a justiça seja garantia de paz e de cidadania universal para todos. Não podemos esquecer as raízes migrantes, que construíram nossa Pátria. Somos migrantes neste mundo, e queremos construir a sociedade do Bem Viver no cuidado e na defesa da natureza e da cidadania plena, somando forças com os povos originários e tradicionais. Não podemos aceitar a exploração, o preconceito, o medo e a exclusão do migrante por causa de uma falsa mentalidade em que se confunde o migrante como uma mercadoria de lucro ou exploração e como um inimigo que coloca em risco a segurança ou que vem roubar nossas oportunidades de emprego. É um ser humano, um trabalhador, um protagonista e um profeta da esperança que está buscando como todos nós, um futuro de paz, de vida e dignidade. O gesto iluminador que nos orienta como pastoral e Igreja foi a visita e o encontro que o Papa Francisco teve com os migrantes e refugiados em Lampedusa – Itália: “Adão, aonde você está”? “Caim, onde está seu irmão”? São perguntas que mexem com a consciência e com a globalização da indiferença. “Peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, pela crueldade que reina no mundo, em nós, e também naqueles que tomam decisões sócio econômicas, que abrem estradas para dramas como estes. Peçamos perdão pela indiferença com tantos irmãos e irmãs; pelos acomodados, fechados em seus corações anestesiados; perdão por aqueles que, por causa das suas decisões, em nível mundial, criaram situações que se concluem com estes dramas” (Homilia do Papa Francisco – Julho/2013, Lampedusa – Itália). Diante da realidade de um êxodo forçado cada vez mais complexo, plural e massivo, convocamos a todas as pessoas de boa vontade a se unirem somando forças na causa pelo cuidado da vida e da natureza, sonhando com a sociedade do Bem Viver. Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina, acompanhe a todos os seus filhos (as) que estão em situação de migração, para que juntos possamos construir o mundo sonhado pelo seu Filho Jesus.

 São Paulo, 03 de novembro de 2013.

 Participantes da 16ª Assembleia Nacional do Serviço Pastoral

http://miguelimigrante.blogspot.com.br/