A Paróquia São Pedro, Umbará - Curitiba em expansão populacional
Imóveis do Minha Casa Minha Vida estão distribuídos em cinco conjuntos. Famílias devem chegar ao local no fim deste mês
HABITAÇÃO
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Prestes a receber mais 2,8 mil famílias, uma das regiões que mais cresceram na capital desafia a logística da ocupação habitacional
O bairro do Ganchinho, no extremo sul de Curitiba, demorou 300 anos para chegar até os 7 mil moradores, número computado pelo Censo de 2000. Na década seguinte, recebeu mais 4 mil habitantes e se tornou um dos bairros que mais cresceram na capital paranaense. É certo que o novo salto populacional será ainda mais breve, e com data definida: vai ocorrer a partir do final de agosto, quando 2,8 mil famílias participantes do programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, receberão as chaves de seus imóveis, distribuídos em cinco conjuntos habitacionais construídos ao norte do bairro, próximo ao contorno leste.
O novo aporte de moradores à região, distante 20 quilômetros do Centro, demonstra que a mancha urbana está chegando aos limites geográficos da cidade. O Ganchinho, onde ainda é possível ver pinheiros em profusão e modos de vida quase rurais, é o retrato de uma Curitiba que já não cabe em si. Por isso, incorporar o bairro à dinâmica da cidade exige investimentos para além da construção das unidades, e o transporte é a demanda mais imediata.
Reflexos
Aumento populacional irá transformar o dia a dia da região
Teoricamente, no Ganchinho, cada morador dispõe de 557 m² de área verde – um cenário raro, mas que está prestes a sofrer transformações. O aumento populacional tende a avançar não apenas sobre as árvores, mas sobre o modo de vida que elas proporcionam.
Dos 11 mil moradores do bairro, mais de 90% estão no norte, entre a Rua Eduardo Pinto da Rocha e o Contorno Leste. Abaixo, a região é marcada pela Área de Proteção Ambiental do Rio Iguaçu mesclando-se a algumas dezenas de moradias às margens da Estrada do Ganchinho e da Rua Nicola Pellanda. Diferente do Bairro Novo, área para habitação popular destinada em lei, os conjuntos do Minha Casa Minha Vida no Ganchinho surgiram, pela disponibilidade dos terrenos. O tamanho dos empreendimentos devem atrair outros de padrão semelhante, dando uma nova cara ao bairro. O prognóstico é que o Ganchinho expanda para essa área até o limite legal da APA, alterando as características históricas do local. “O zoneamento é diversificado. Existe uma zona de serviços que acompanha o Contorno Leste”, explica Maria Cristina Trovão Santana, coordenadora de uso do solo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).
Milton Maranho, 61 anos, nasceu e passou toda a vida em uma residência de madeira quase centenária na beira da Estrada do Ganchinho, e vê ao longe os primeiros prédios avançarem sobre a região. Mas sem remorso. “Se o povo viesse pra cá, seria bom. A gente monta um negócio e vai vender pra quem?”, diz o oleiro aposentado apontado as árvores em volta.
R$ 180 milhões
É o valor total dos investimentos no bairro Ganchinho, oriundos do programa Minha Casa Minha Vida.
Distância
O bairro está fora da zona de influência das vias estruturais e a conexão com a Linha Verde é igualmente dificultosa. A criação ou extensão de linhas de ônibus está sendo estudada pela prefeitura. A principal demanda virá do Parque Iguaçu, maior dentre os conjuntos a serem inaugurados, com 1,4 mil unidades. Além do tamanho, está localizado ao sul do contorno leste, via que costumava ser o limite informal da cidade. “O contorno era justamente para desviar da cidade, e agora estamos avançando para o outro lado dele”, lembra Carlos Hardt, coordenador do programa de pós-graduação em Gestão Urbana da PUCPR.
Os outros conjuntos, que ficam ao norte do contorno, se insinuam como um prolongamento do Bairro Novo e do Sítio Cercado. A ponta norte do Ganchinho se liga aos bairros vizinhos pela Rua Guaçuí, que se emenda à Tijucas do Sul. Inicialmente, os serviços públicos instalados no Bairro Novo devem servir aos novos habitantes do Ganchinho. São 15 escolas e creches, cinco hospitais e unidades de saúde e dois Armazéns da Família.
Segundo a prefeitura, há previsão de investimentos específicos para o Ganchinho, como creche, unidade de saúde, escola municipal e outra estadual. Na área do Parque Iguaçu, foram reservados 17 mil m² para a instalação de equipamentos públicos, mas a transferência do terreno ainda depende de acordo judicial.
Para Hardt, o bairro povoado precisa ter uma vida comunitária própria, baseada na descentralização de serviços. “Curitiba tem demonstrado bons exemplos de descentralização, com Ruas de Cidadania e outros serviços. No Ganchinho isso terá de ser ainda mais intenso”.
Conjuntos habitados dividem opiniões
Os novos moradores do Ganchinho foram definidos pela Cohab Curitiba conforme o cadastro na fila. Também foram beneficiadas famílias relocadas de áreas de risco da região sul (Ferrovila, Uberlândia, 23 e Agosto) e de outras partes da cidade, como Mossunguê, Cajuru e Atuba.
A autarquia municipal afirma que vai dar suporte à instalação das famílias pertencentes à faixa de renda mais baixa (até R$ 1,6 mil). Um trabalho que começa na mudança e se prolonga por seis meses, com orientações sobre a gestão do condomínio, estímulo à criação de vínculo com a moradia e a comunidade, além de fazer a ponte com os programas sociais e serviços públicos.
Dois conjuntos, totalizando 640 unidades, já foram habitados. Entregues entre o final de 2012 e o início deste ano, funcionam como uma espécie de laboratório. Passados alguns meses, os moradores afirmam estar se adaptando ao novo bairro. Apontam a falta de alguns serviços públicos, como creche, e reclamam do estilo de vida em apartamento. Para a maioria, é a primeira vez nesse tipo de imóvel.
“A região é boa, mas o apartamento é ruim. Não tem privacidade. Se pudesse, saía hoje”, afirma o operador de máquinas Antonio Marques Cadena, de 42 anos, vindo de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, após cinco anos na fila da Cohab.
Adriano Lira dos Santos, almoxarife de 28 anos, vive no Ganchinho desde 1993. Agora, mudou-se com a família para o Conjunto Araçá, deixando os fundos da casa da mãe. “Quando eu era criança não tinha nada aqui. Para fazer a 5.ª série, tinha que ir pra outro bairro. Hoje minha filha estuda em frente de casa”. Outra diferença percebida é a multiplicação do comércio e do transporte coletivo. “Espero que agora venham mais melhorias, e abram novas vias”.
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