O Haiti é aqui, no Paraná
Jean Auguste, Jean Vertus e Kesnel (no sentido horário)
trabalham em Ponta Grossa :
frio, saudade e idioma são barreiras na adaptação dos haitianos
Dois em cada dez haitianos que desembarcaram no Brasil após o
terremoto de 2010 estão em território paranaense. Imigrantes se espalharam
pelas regiões Sul, Sudeste e Norte.
Descrentes com a recuperação econômica do Haiti após o terremoto
que matou 316 mil pessoas em janeiro de 2010, muitos haitianos procuraram o
Brasil para recomeçar a vida e buscar um emprego. Hoje, dois anos e meio após a
tragédia, cerca de 6 mil haitianos vivem no Brasil, segundo o Ministério da
Justiça. A maioria migrou para cá entre o ano passado e este ano. Desse
contingente, 600 estão em território paranaense, espalhados em pouco mais de
dez municípios.
De acordo com o Conselho Nacional de Imigração (Cnig), ligado ao
Ministério do Trabalho e Emprego, a Região Sul concentra 40% dos imigrantes do
Haiti. O restante vive no Norte (39%) e no Sudeste (21%). No Sul, o Paraná é o
estado com a maior parcela, com 19% dos imigrantes oriundos da capital
haitiana, Porto Príncipe. Outros 8% estão em Santa Catarina , e
13%, no Rio Grande do Sul. Na Região Norte, o Amazonas abriga 19% dos haitianos
que estão na região. No Sudeste, São Paulo é o principal polo, com 12% dos
haitianos da região.
Futuro
Apesar das dificuldades, imigrantes
fazem planos para trazer as famílias
Três haitianos que nunca tinham se visto no país de origem foram se conhecer neste ano,em Ponta
Grossa , nos Campos Gerais. Eles foram contratados por uma
empresa terceirizada da concessionária Rodonorte para restaurar duas pontes na
rodovia PR-151. O trabalho começa ao amanhecer e é pesado, mas os haitianos não
reclamam. “Gosto muito daqui”, diz Jean Estaniel Vertus, 29 anos, que era
motorista em Porto
Príncipe quando a tragédia causada pelo terremoto forçou sua
saída do país em busca de trabalho no Brasil.
Além dele, Kesnel Pierre Charles, 32 anos, e Jean Julio Auguste, 42 anos, também atuam na obra. Os três dizem que já estão acostumados com a rotina no Paraná, mas se queixam do frio e das barreiras que têm enfrentar no dia a dia, como a dificuldade para se comunicar em português e a saudade da família.
Dos três, Kesnel é o veterano. Ele está no Brasil há um ano e três meses. Desembarcou em Manaus e depois foi recrutado por empresas paranaenses. Veio primeiro para Curitiba, depois seguiu para Ponta Grossa, onde divide um alojamento próximo ao Parque Estadual de Vila Velha com os dois amigos haitianos. Kesnel fala melhor o português porque fez um curso de quatro meses no Amazonas. Agora, ele ensina os colegas. Jean Vertus está aprendendo o idioma, mas Jean Auguste ainda precisa da ajuda dos colegas para conversar.
Lan house
Pelo menos uma vez por mês, eles pegam um ônibus e vão até o centro de Ponta Grossa para usar uma lan house. É a única alternativa para conversar com os familiares. Os três querem trazer os parentes para morar no Paraná.
Kesnel deixou a namorada no país de origem; Jean Vertus, o filho de 6 anos e a esposa; e Jean Auguste, os dois filhos de 11 e 14 anos mais a esposa. Além das conversas esporádicas, eles mantêm o vínculo com os familiares mandando parte do ordenado para Porto Príncipe por meio de transferência bancária.
Três haitianos que nunca tinham se visto no país de origem foram se conhecer neste ano,
Além dele, Kesnel Pierre Charles, 32 anos, e Jean Julio Auguste, 42 anos, também atuam na obra. Os três dizem que já estão acostumados com a rotina no Paraná, mas se queixam do frio e das barreiras que têm enfrentar no dia a dia, como a dificuldade para se comunicar em português e a saudade da família.
Dos três, Kesnel é o veterano. Ele está no Brasil há um ano e três meses. Desembarcou em Manaus e depois foi recrutado por empresas paranaenses. Veio primeiro para Curitiba, depois seguiu para Ponta Grossa, onde divide um alojamento próximo ao Parque Estadual de Vila Velha com os dois amigos haitianos. Kesnel fala melhor o português porque fez um curso de quatro meses no Amazonas. Agora, ele ensina os colegas. Jean Vertus está aprendendo o idioma, mas Jean Auguste ainda precisa da ajuda dos colegas para conversar.
Lan house
Pelo menos uma vez por mês, eles pegam um ônibus e vão até o centro de Ponta Grossa para usar uma lan house. É a única alternativa para conversar com os familiares. Os três querem trazer os parentes para morar no Paraná.
Kesnel deixou a namorada no país de origem; Jean Vertus, o filho de 6 anos e a esposa; e Jean Auguste, os dois filhos de 11 e 14 anos mais a esposa. Além das conversas esporádicas, eles mantêm o vínculo com os familiares mandando parte do ordenado para Porto Príncipe por meio de transferência bancária.
Segundo o presidente do Cnig, Paulo Sérgio de Almeida, os
haitianos que migraram para o Brasil entraram no país principalmente pelo Acre
e pelo Amazonas. A maioria dos que seguiram para o Sul do país vem do Acre.
Conforme uma das coordenadoras da Pastoral do Migrante no Paraná, Elisete
Sant’Anna de Oliveira, entre as explicações para o acolhimento paranaense está
o fato de as empresas recrutarem haitianos no Norte do país e a própria rede de
comunicação formada pelos haitianos. “Muitos se conheceram no Norte e mantêm
contatos entre si. Eles chamam os amigos para os estados onde estão e ainda há
emprego disponível”, comenta. Ainda segundo ela, dos haitianos que estão no
Paraná, 90% estão estabilizados e querem trazer os familiares.
Singularidade
Os haitianos estão no Brasil com visto humanitário. De acordo
com Almeida, a causa para a vinda deles ao Brasil é basicamente econômica.
Nesse sentido, segundo ele, esse foi um tipo de fluxo migratório singular. “O
Haiti já estava desestruturado antes do terremoto e depois dele as coisas não
voltaram ao normal. Na história recente do Brasil, a imigração dos haitianos é
um caso muito diferente”, diz o presidente do Cnig. Em geral, as imigrações
ocorrem por motivos de guerra ou perseguição religiosa.
A explosão da imigração haitiana é facilmente constatada ao se
observar a série histórica dos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), de 1970 a
2010. Até o terremoto, pouco menos de 400 indivíduos vieram morar no Brasil
nesse período. Número que não chega a 10% do total que migrou para terras
brasileiras entre 2011 e 2012. Ainda segundo o IBGE, dos anos 70 para cá,
portugueses e japoneses foram os povos que mais enviaram cidadãos para o
Brasil: 1,29 milhão e 426 mil, respectivamente.
Mão
de obra estrangeira é bem-vinda, dizem analistas
Os haitianos não concorrem com os brasileiros quando o assunto é
mercado de trabalho, na opinião do professor do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Jorge Ramalho da Rocha
e do professor de Sociologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR) Márcio de
Oliveira. Isso porque os imigrantes ocupam vagas em que o país carece de mão de
obra.
De acordo com a política estabelecida pelo governo federal, após
o terremoto de 2010, qualquer haitiano que não tenha antecedentes criminais e
queira vir para o Brasil pode obter o visto para residência permanente mesmo
sem ter vínculo empregatício no país. A embaixada brasileira em Porto Príncipe
concede os vistos de quem quer vir para cá e o Ministério da Justiça regulariza
a situação de quem já está no Brasil.
Conforme o presidente do Conselho Nacional de Imigração (Cnig),
Paulo Sérgio de Almeida, dessa forma as imigrações são praticamente todas
regulares. Apesar disso, ainda ocorre a travessia terrestre de haitianos para o
Brasil pelo Acre, mas a situação é monitorada pelo governo.
“A quantidade de haitianos é pequena e será facilmente
absorvida pela economia brasileira, que, aliás, necessita de mão de obra. Em
certas áreas, tais como a construção civil, eles têm longa tradição e trabalham
muito bem”, analisa Rocha.
Além do Brasil, conforme Oliveira, os haitianos que deixaram o
país após o terremoto foram para República Dominicana, Estados Unidos e França.
“A situação no Haiti continua muito ruim, há centenas de abrigos e a tendência
é que os haitianos continuem deixando o país”, considera. Para ele, os países
latino-americanos deveriam se reunir para planejar o recebimento dos haitianos.
Assistência
Pastoral e Comitê Estadual prestam apoio a imigrantes no PR
Pastoral e Comitê Estadual prestam apoio a imigrantes no PR
Para apoiar os cerca de 600 haitianos que estão no Paraná, o
estado conta com a Pastoral do Migrante, uma iniciativa da Igreja Católica, e
o Comitê Estadual de Refugiados e Migrantes, que envolve órgãos do governo
estadual. A assistente social Elisete Sant’Anna de Oliveira, integrante da
coordenação da Pastoral do Migrante, explica que a entidade acompanha o
trabalho dos haitianos contratados no estado e verifica se eles não estão
sob condições degradantes. “A Pastoral não age diretamente nos contratos de
trabalho, mas cria condições para questionar os problemas quando eles
existirem”, acrescenta.
Elisete também integra o Comitê Estadual. Ele foi instalado em
julho deste ano para acompanhar as políticas públicas de atendimento a
migrantes e refugiados e está sob a coordenação da Secretaria de Estado da
Justiça, Cidadania e Direitos Humanos. Conforme Elisete, entre os projetos do
comitê estão aulas de português para os imigrantes em parceria com a Secretaria
de Estado da Educação.
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